Depoimento de Duque é tentativa de fabricar acusações contra Lula

Com a proximidade do depoimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao juiz Sérgio Moro, responsável pelo processo da Lava Jato em primeira instância, a imprensa aumentou as ilações e acusações em provas contra o ex-presidente.

Renato Duque

Na sexta-feira (5), as declarações feitas pelo ex-diretor da Petrobras, Renato Duque, foram tratadas como verdade pela mídia. Preso há três anos, Duque curiosamente esperou a semana que antecede o depoimento de Lula em Curitiba para incrimina-lo.

Condenado em quatro ações da Lava Jato a mais de 50 anos de prisão, Duque contou uma história digna de filmes de suspense em que diz que “Lula pediu para que ele fechasse contas no exterior, onde recebia propinas”.

Por meio de nota, a defesa de Lula afirmou: “O depoimento do ex-diretor da Petrobras Renato Duque é mais uma tentativa de fabricar acusações ao ex-presidente Lula nas negociações entre os procuradores da Lava Jato e réus condenados, em troca de redução de pena”.

Ainda segundo a nota, o Ministério Público Federal não conseguiu produzir “nenhuma prova das denúncias levianas contra o ex-presidente, depois de dois anos de investigações, quebra de sigilos e violação de telefonemas, restou aos acusadores de Lula apelar para a fabricação de depoimentos mentirosos”.

Para defesa, “o desespero dos procuradores aumentou com a aproximação da audiência em que Lula vai, finalmente, apresentar ao juízo a verdade dos fatos”.

A mídia faz o seu jogo de ilações e factoides. A revista Época, da família Marinho, publicou em sua capa: "As provas contra Lula: 3 mil evidências, 13 casos e R$ 80 milhões em propina". Apesar da contundência do título, a matéria não apresentou uma prova sequer que pudesse sustentar tal manchete.

O texto diz que "há, sim, provas abundantes contra Lula" e que tais provas "envolvem uma ampla e formidável gama de crimes". Diz ainda que o MPF, além de órgãos como a Receita e o Tribunal de Contas da União, com a ajuda prestimosa de investigadores suíços e americanos, "produziram, desde o começo da Lava Jato, terabytes de evidências que implicam direta e indiretamente Lula no cometimento de crimes graves".

E segue: "Nesses processos e em algumas investigações ainda iniciais, todos robustecidos pela recente delação da Odebrecht, existem, por baixo, cerca de 3 mil evidências contra Lula. Elas foram analisadas por Época". Apesar de ter acesso a 3 mil evidências, a revista não conseguiu apresentar uma prova para sustentar suas afirmações.

Os advogados afirmam que o adiamento da audiência de Lula foi feito sob o falso pretexto de garantir a segurança pública. “Na verdade, como vinha alertando a defesa de Lula, o adiamento serviu unicamente para encaixar nos autos depoimentos fabricados de ex-diretores da OAS (Leo Pinheiro e Agenor Medeiros) e, agora, o de Renato Duque”, reforça.

Desde 2014, Renato Duque, Leo Pinheiro e Agenor Medeiros nunca haviam mencionado o nome do ex-presidente Lula. Para a defesa, a menção feita nos depoimentos recentes de pessoas condenadas a penas de mais de 20 anos de prisão, é evidente coação para negociar benefícios penais.

“Estranhamente, veículos da imprensa e da blogosfera vinham antecipando o suposto teor dos depoimentos, sempre com o sentido de comprometer Lula. O que assistimos nos últimos dias foi mais uma etapa dessa desesperada gincana, nos tribunais e na mídia, em busca de uma prova contra Lula, prova que não existe na realidade e muito menos nos autos”, afirma a nota dos advogados.

A movimentação feita pela força-tarefa da Lava Jato e a mídia é a mesa apresentada pelos procuradores em setembro do ano passado: temos convicções, não provas. Criam um ambiente para condenar Lula a qualquer custo, pois assim estarm atendendo ao clamo popular daqueles que Moro chama de "apoiadores".

Aliás, a decisão de Moro de divulgar na noite de sábado (6), um vídeo em que pede para que "apoiadores" não compareçam à Justiça Federal em Curitiba na próxima quarta-feira (10), data marcada para o depoimento de Lula, o magistrado da mais uma demonstração de conduta política, e não de um juiz.

Vale lembrar que, na semana passada, o procurador Deltan Dallagnol também utilizou as redes sociais para criticar a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o habeas corpus de José Dirceu. A conduta de ambos demonstra que não se trata de uma ação deliberada, mas de uma estratégia para fazer prevalecer na opinião pública as suas convicções.