Sociedade critica suspensão do programa Ciência sem Fronteiras

A notícia do cancelamento do programa Ciência sem Fronteiras foi recebida com indignação por estudantes, cientistas e entidades atuantes na defesa da Ciência e Tecnologia, que acusam o governo de aproveitar a ruptura democrática para promover cortes sociais.

Por Laís Gouveia

Temer e Mendonça Filho - Foto: Fernando Bezerra/EFE

Segundo informações do colunista Lauro Jardim, no O Globo deste domingo (2), o governo tenta justificar a ação enumerando que os brasileiros participantes do programa possuem deficiência em inglês, devido ao custo de manutenção desses estudantes e por consequência das dívidas deixadas pelo governo anterior.

O ex-ministro da Educação Aloisio Mercadante rebateu a argumentação dos deficits deixados na gestão do governo Dilma. “Eles sempre atribuíram os desmontes que vêm realizando na educação ao fato de supostamente terem encontrado o MEC quebrado, em razão do contingenciamento provisório de R$ 4,2 bilhões que fizemos em março de 2016, enquanto aguardávamos a votação da alteração da meta do superavit. Pois bem. Depois do golpe, quando o Congresso finalmente alterou a meta, este valor foi reintegrado ao orçamento do MEC, como havíamos planejado”, afirmou em nota.

Repercussão

O cientista Miguel Nicolelis usou sua conta no Twitter para lamentar o fato. “Brasil correndo a toda velocidade rumo ao passado! Sociedade que solapa sonhos da juventude comete o pior dos crimes! Nunca a juventude brasileira teve uma oportunidade como esta. Nunca a ciência brasileira foi tão oxigenada por novos ares e novas visões”, alertou.

Ele afirma que fim do programa é reflexo da ruptura democrática no país. “Espero que este seja apenas um até logo e que quando a democracia volte ao Brasil este programa possa ser reativado, melhorado e expandido! Elogiado em todo o mundo, Ciência sem Fronteiras permitiu que 108 mil jovens conhecessem os horizontes da ciência brasileira. Ao longo dos últimos anos, em todas as minhas palestras pelo mundo, me emocionei ao encontrar alunos brasileiros que descobriam mundo para o programa”.

A União Nacional dos Estudantes (UNE) usou sua página no Facebook para denunciar o desmonte ofertado pelo governo Temer: “Com isso, coloca o Brasil na contramão de países que investem na formação científica e tecnológica. Um absurdo que atrapalha o futuro do país e de milhões de estudantes brasileiros. A UNE vai lutar para reaver o programa e convoca todos os defensores da educação e da ciência para fazer o mesmo”.

Em nota, MEC afirma que cortes serão efetuados na graduação

Após a repercussão negativa do fato, o Ministério da Educação (MEC) lançou uma nota neste domingo (2) dizendo que os cortes foram executados na graduação. Bolsistas pós-graduandos, pós-doutorado e estágio sênior no exterior supostamente serão mantidos no programa.

Ciência sem Fronteiras

Lançado em julho de 2011, o programa Ciência sem Fronteiras busca promover a consolidação, expansão e internacionalização da ciência e tecnologia, da inovação e da competitividade brasileira por meio do intercâmbio e da mobilidade internacional.

Dos alunos que participaram do Ciência Sem Fronteiras, 26,4% são negros; 25% são jovens de famílias com renda até três salários mínimos; e mais da metade é de famílias com renda de até seis salários mínimos, segundo informações do ex-ministro Aloísio Mercadante.