Sobre a Veja, Aécio muda de “grave”, em 2014, para “farsa covarde”

“O Brasil precisa da resposta dos que hoje governam”, disse o então candidato presidencial Aécio Neves em 24 de outubro de 2014, comentando a capa da revista Veja em pleno segundo turno das eleições, que dizia ter tido acesso ao depoimento do doleiro Alberto Youssef, delator na Operação Lava Jato, em que afirmava que Lula e Dilma sabiam da corrupção dentro da Petrobras.

Por Dayane Santos

Aécio Neves - José Cruz/Agência Brasil

Tomando como base a reportagem da Veja, Aécio ingressou com ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para questionar a legitimidade da chapa Dilma-Temer, acusando-a de abuso de poder econômico, e iniciou a campanha do quanto pior melhor, insuflando o ódio e a criminalização da política ao não se conformar com a derrota nas urnas.

Agora, às vésperas da decisão do tribunal sobre o processo, o tucano é acusado por delatores que depuseram na ação de cometer o crime do qual acusou seus adversários. Aécio foi capa da revista Veja – um dos veículos de apoio ao golpe – acusado de ter recebido propina da Odebrecht em Nova York. Os sites do Globo, Agência Brasil, R7 e Brasil 247 repercutiram a informação.

Quando a revista atacava a campanha de Dilma, o então candidato Aécio convocou coletiva de imprensa para informar que havia acionado a Procuradoria Geral da República (PGR) para investigar as denúncias publicadas da Veja.

Apesar da matéria não trazer nenhuma prova, apenas factoides, Aécio disse que era preciso aprofundar as investigações das denúncias, as quais considerou “extremamente graves”. No último programa da campanha, Aécio chegou a utilizar a reportagem para atacar Dilma.

Na época, tentando dar veracidade à ilação da Veja, Aécio disse que Youssef estaria fazendo delação premiada à Justiça em troca da redução de sua pena, um acordo para o qual é preciso sustentar o depoimento com provas. O mesmo que o delator da Odebrecht faz ao citar políticos.

Aécio afirmou que o STF aceitou o acordo “acreditando” na veracidade das declarações e disse que “há informações que indicam” a credibilidade das denúncias contra Lula e Dilma.

“Se isso for comprovado, é a confirmação que houve uma operação de ‘caixa dois’ na atual campanha presidencial do PT. Repito, é algo extremamente grave que tem que ser confirmado e também investigado”, concluiu o candidato tucano.

Agora, Aécio chamou a denúncia contra ele de “falsa e covarde”. Declarou-se “indignado” e afirmou que a matéria foi veiculada “sem a devida apuração”. Em sua página no Facebook, o senador tucano divulgou um vídeo e a assessoria do parlamentar divulgou nota sobre o assunto.

“Tal conta nunca existiu. As acusações publicadas na revista Veja são falsas e absurdas. É lamentável que afirmações graves como as apresentadas venham a público sem a devida apuração de sua veracidade”, diz um trecho da nota, afirmando ainda que o advogado de Aécio entrou em contato com o advogado Alexandre Wunderlich, que representa o delator Benedito Júnior, e este lhe informou que não existe na delação de seu cliente qualquer referência à irmã do senador ou a qualquer conta vinculada a ela em Nova York.

Isso porque a matéria da Veja envolve a irmã do tucano, Andrea Neves, a apontando como responsável por receber o pagamento da Odebrecht em contas em Nova York.

Andrea também divulgou um vídeo em que acusa a revista Veja de mentir e negando que seja verdade que uma conta em seu nome tenha sido utilizada receber o dinheiro ilegal.

“Eu não sei o que está acontecendo para atacar de forma tão covarde a vida das pessoas. Eu gostaria de olhar no olho de cada pessoa que acompanha o nosso trabalho e dizer que é mentira, e que nós vamos provar”, disse a irmã de Aécio.