Laura: Reforma da Previdência de Temer criará milhões de Daniel Blakes

A economista Laura Carvalho rebate em sua coluna na Folha de S.Paulo, nesta quinta-feira (30) o argumento dos economistas do governo de que a reforma da Previdência "atacará sobretudo os mais privilegiados".

Laura Carvalho

 "Como a grande maioria dos mais pobres já se aposenta por idade, o estabelecimento de uma idade mínima de 65 anos afetará essencialmente aqueles que recebem benefício maior, que hoje se aposentam por tempo de contribuição", diz.

Ainda assim, "os pontos que mais prejudicarão os mais vulneráveis são a exigência de tempo mínimo de contribuição de 25 anos para todos os trabalhadores e a desvinculação do BPC do salário mínimo", argumenta a economista, lembrando que essa exigência poderia "eliminar totalmente a possibilidade de aposentadoria" dos trabalhadores mais pobres. 

Isso porqueo elevado grau de informalidade do mercado de trabalho brasileiro torna muito difícil que esses trabalhadores consigam comprovar 25 anos de trabalho, em especiaol nas áreas rurais.

"Seriam milhões de novos Daniel Blakes na Amazônia, no sertão e nas favelas brasileiras. A maior parte deles migraria —aos 70 anos somente, pela nova regra— para o BPC", diz. O benefício pode ser recebido por aqueles que têm renda per capita familiar inferior a um quarto de salário mínimo ou alguma deficiência comprovada."Receberiam então um benefício que, pela desvinculação proposta, pode vir a ser menor que um salário mínimo a depender da disputa pelas fatias do Orçamento", escreve.