Luciano Siqueira: Um passo atrás no concerto mundial

Em tempos de moderna globalização e profunda crise do sistema reinante no mundo, ganha impulso a transição de um modo unipolar, sob hegemonia dos EUA, para outro cenário, multipolar, com a emergência de outros pólos de desenvolvimento e de influencia política e diplomática.

Serra submisso - Charge: Bessinha

Novos blocos emergem nesse cenário, a exemplo do BRICS (Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul).

A China socialista gradativamente assume o posto de principal economia do mundo, detentora de forte poder nacional e um de um peso específico ascendente nas relações internacionais.

A Rússia recupera sua condição de potência e busca ampliar sua área de influência.

No cronicamente conturbado Oriente Médio, ressurge a força do Irã, em contraposição a Israel.

A União Europeia, sob hegemonia alemã, mantém movimentos pendulares entre aliança e rivalidade com os Estados Unidos e se posiciona como ponta de lança no combate à Rússia.

O Japão, há décadas em crise, ao tempo em que se mantém na órbita estadunidense, envereda por um caminho militarista próprio e busca aumentar sua projeção e presença na Ásia, em oposição à China.

E a crise sistêmica que transcorre há uma década, com epicentro nos EUA e envolvendo duramente os países centrais da Europa, espraia suas consequências para as demais regiões do mundo.

Nessas circunstâncias, países médios e em desenvolvimento têm procurado defender seus interesses comuns se agrupando – a exemplo do Mercosul – para arrostaram em melhores condições, nas relações comerciais e diplomáticas, o poderio impositivo das grandes potências.

Há mais de uma década, desde a assunção de Lula à presidência da República, o Brasil vinha se firmando através de uma política externa altiva.

Ampliou e diversificou sua agenda de parceiros comerciais, reduzindo substancialmente sua anterior dependência de exportações para o mercado norte-americano.

Contribuiu decisivamente para a inviabilização da Alca, projeto danoso aos interesses dos países latino-americanos, ajudou a criar e a fomenta a União das Nações Sul-Americanas (Unasul), a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), além de se empenhar para fortalecer o Mercado Comum do Sul (Mercosul).

Entretanto, no governo Temer, seguindo a linha geral de retrocessos, a política externa – sob o comando de José Serra e agora de Aloysio Nunes, ambos tucanos americanófilos -, deu um imenso passo atrás, abandonando as articulações comuns de países soberanos para retornar à área de influência dos EUA.

Subserviência e alinhamento automático absolutamente contraditório com as exigências do mundo, postas diante das nações que almejam a sua soberania.