Donald Trump e Angela Merkel: um diálogo incômodo

Meios de comunicação estadunidenses e estrangeiros qualificaram como gélida e tensa a reunião que sustentaram pela primeira vez na Casa Branca o presidente Donald Trump e a chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel.

Angela Merkel e Donald Trump

A negativa de Trump de dar a mão à Angela Merkel para uma foto no Gabinete Oval ou o aparente incômodo da visitante diante dos comentários do chefe de Estado durante o encontro de 17 de março não escaparam da vista da opinião pública.

A prova de que a reunião quiçá não marchou bem foi dada pelo próprio presidente um dia depois, quando por meio de sua conta na rede social Twitter acusou a Alemanha de dever grandes somas de dinheiro ao Pacto Militar do Atlântico Norte (Otan).

A reação de Berlim não se fez esperar e a ministra germânica da Defesa, Ursula von der Leyen, indicou que as despesas em prol da Otan não podem ser o único critério para medir os esforços militares da Alemanha.

Precisamente esperava-se que o tema da aliança atlântica foi central no encontro entre ambos líderes, sobretudo após que o atual ocupante da Casa Branca chegar a considerar o bloco como obsoleto e mau preparado para enfrentar as ameaças atuais.

Desde sua etapa como candidato presidencial republicano, Trump criticou que muitos países ricos não pagam suas contas, o que obrigava aos Estados Unidos a carregar com o peso do agrupamento criado em 1949 e frequentemente criticada por seu controvertido papel em conflitos ao redor do mundo.

Apesar desse tipo de comentários e às divergências de critério, o chefe de Estado ratificou a Angela Merkel o forte apoio de seu país à Otan e a todas as nações aliadas.

O contínuo respaldo norte-americano se corroborou com a visita nesta semana a Washington do secretário geral da organização, Jens Stoltenberg, que reuniu-se com o titular da Defesa, James Mattis.

Mas as melhores notícias para o bloco chegaram na noite de 21 de março, quando o secretário de imprensa de Trump, Sejam Spicer, anunciou que o presidente participará em maio próximo na reunião de chefes de Estado e de Governo da aliança que se celebrará em Bruxelas, Bélgica.

Como se tal compromisso fosse pouco, o presidente também receberá a Stoltenberg na mansão executiva em 12 de abril, o que desocupa por enquanto as previsões de alguns meios de que Washington quiçá se esteja se distanciando da coalizão militar.

Além do tema da Otan, o diálogo Trump-Merkel pôs ênfase na economia e o comércio, pois ambos líderes destacaram a importância dos laços bilaterais, e de Estados Unidos com a União Europeia (UE) em geral.

A chanceler federal recordou a seu anfitrião que a UE acaba de fechar um acordo de livre comércio com Canadá, e expressou seu desejo de que logo possam ser reabertas as conversas sobre um pacto de comércio e investimentos com Washington.

São esse tipo de interesses, os militares e econômicos, os que seguramente prevalecerão para além de qualquer diferença de visões ou critérios entre os dois interlocutores.

Fontes próximas a Merkel disseram antes da viagem que ela queria apelar ao sentido da eficácia comercial de Trump em uma tentativa de conquistar o novo presidente.