Sucedem-se os escândalos no sistema político francês

François Fillon acumulou já três suspeitas por contratos falsos com a família, empréstimos não declarados e presentes de milhares de euros; simultaneamente, Bruno Le Roux demite-se de Ministro do Interior também por falsos contratos com as filhas menores de idade.

Marine Le Pen e François Fillon

Uma semana depois de ser formalmente colocado sob investigação das autoridades francesas por má utilização de fundos públicos, François Fillon surge ligado a novo escândalo.

Desta vez, o Canard Enchainê revela que Fillon trabalhou para uma empresa de consultoria – a 2F Conseil – através da qual alegadamente recebeu US$ 50 mil para organizar uma reunião entre o presidente da Rússia Vladimir Putin, o empresário libanês Fouad Makhzoumi e o presidente executivo da Total, Patrick Pouyane.

O porta-voz de Fillon considerou que a notícia apresentava meras "insinuações" e o Kremlin reagiu oficialmente caracterizando-a como "notícias falsas" [fake news], o mesmo recurso utilizado por Donald Trump para combater a comunicação social nos EUA.

Estas novas suspeitas sucedem-se às revelações de um empréstimo pessoal de 50 mil euros não declarado às finanças, entregue pelo amigo de Fillon e multimilionário Marc Ladreit de Lacharrière em 2013, bem como os presentes de fatos no valor de 48 mil euros dados por outro amigo de Fillon.

Marc Ladreit é o mesmo amigo de Fillon que contratou Penélope com um salário de 5 mil euros mensais entre maio de 2012 e dezembro de 2013, alegadamente para fazer crítica literária numa revista do seu grupo de comunicação.

Entretanto, a investigação aos fundos públicos pagos à mulher e filhos no valor de quase um milhão de euros revelou que a mulher de François, Penélope Fillon, apresentou relatórios de horas de trabalho com várias discrepâncias, confirmando mais uma vez que Penélope não exerceu qualquer função real como inicialmente afirmara.

Autocaracterizando-se como "um homem profundamente honesto, François Fillon tem resistido a sair de cena, acusando a comunicação social e o sistema de justiça de estar deliberadamente a causar um assassínio político.

Os escândalos do sistema político francês estão definitivamente a marcar campanha presidencial.

Bruno Le Roux, até ontem Ministro do Interior de François Hollande, demitiu-se ontem, meras horas após as autoridades francesas lançarem uma investigação à contratação das duas filhas para o gabinete de Le Roux entre 2009 e 2016, quando ambas eram menores de idade.

Ao todo, receberam cerca de 55 mil euros nos sete anos em que realizaram 24 contratos de curta duração para funções de assessoria que, dadas as circunstâncias, suspeita-se serem funções falsas.

Bruno Le Roux admitiu já os contratos realizados e, apesar de as somas serem significativamente menores às de Fillon, não deixam de revelar uma prática que se tornou politicamente tóxica. Em declarações ao púpblico, Le Roux disse apenas que as filhas "trabalharam comigo, essencialmente durante o verão ou outros períodos de férias escolares mas nunca de forma permanente".

Apesar do limite legal de idade de trabalho na França estar nos 16 anos, esse limite não se aplica quando o empregador são os próprios pais. No entanto, Le Roux não apresentou explicações plausíveis para o facto de uma das filhas estar simultaneamente a trabalhar na Yves Rocher na Bélgica durante o verão de 2013, ao mesmo tempo que estaria a trabalhar para ele.

Também Emamnuel Macron, líder na sondagens, está marcado por suspeitas de favorecimento do grupo Havas num concurso público enquanto era Ministro da Economia, enquanto que Marine Le Pen é suspeita de má utilização de fundos do parlamento europeu.

Fora de suspeitas estão apenas os candidatos à esquerda, Jean-Luc Mélenchon e Benoit Hamon.