Walfrido Neto: Certo, mas qual seu time em São Paulo?

Geralmente, quando o assunto é futebol, e o perguntado é nordestino, responde o primeiro questionamento (que dá título ao texto), “Qual seu clube de coração?” com um time do nordeste, essa é a segunda pergunta que tem que responder, por várias vezes necessita até responder mais de uma vez ao perguntador, caso “teime” em falar aquele time da sua cidade.

Por Walfrido Neto*

Torcida Leões de Sampa, do Sport Club do Recife, no Morumbi

O que leva os paulistanos (usando São Paulo como exemplo, pois esse fato é corriqueiro do Sudeste “pra baixo”) a achar que torcer por alguma equipe da região nordestina é “café com leite”, é de se desconfiar, pois a monopolização das notícias na imprensa em geral, quase nunca relatando o que acontece da Bahia para cima, faz com que seja impensável torcer por um time que praticamente "não existe", isso na cabeça de quem pergunta, claro.

Muitos torcedores vindos do nordeste não seguram o impulso de serem levados a virar fãs dos clubes que são noticiados na TV, os “pops” e deixam aquele outro, o primo pobre, que não tem direito sequer de ganhar fazendo mais de 3 gols, sob pena de não ter todos os seus gols mostrados no fantástico, aliás, é permitido, por compaixão, continuar tendo ele como segundo time, mas o primeiro é aquele que vale, o time “daqui”.

Entretanto para aqueles que não abrem mão da sua identidade, urge a necessidade de fazer mais do que simplesmente torcer, é resistir, e, sobretudo, existir. Um exemplo é a Leões de Sampa, que foi criada exatamente para que essa tentação de ter uma vida mais fácil torcendo pelos times do “eixo” fosse substituída pelo orgulho, pela identidade, pela sensação de pertencimento de estar com os seus semelhantes, falar com seu sotaque, assistir e ter notícias daquele clube que o cativou na infância, que fez o torcedor, nesse caso do Sport Club do Recife, gostar de futebol.

O Rancho Nordestino, bar localizado na Bela Vista, a casa do Sport em São Paulo, é o reduto dos rubro-negros pernambucanos, transmite todos os jogos do clube, até aqueles que não são transmitidos para a capital paulista, estes exigem quase uma operação de guerra, mas são transmitidos, entretanto não é só isso, os que desavisados por lá passam, acabam se deparando com os torcedores cantando forró, frevo, maracatu, recitando cordel, contando as histórias de Recife, Olinda, Caruaru, ou seja, continuar torcendo para o Leão da Ilha é continuar vivendo um pouco de Pernambuco, é matar a saudade da terra natal duas vezes por semana, ao descer as escadas do restaurante e estar entre os seus, num pedaço da Ilha do Retiro.

O trabalho chamou atenção do clube e hoje a LDS ganhou a alcunha de Consulado Oficial do Sport em São Paulo, não tendo definição melhor para esse espaço, pois consulado é uma representação de uma nação noutra diferente, sendo assim, busca-se mostrar a todos que se tem orgulho de onde vem, coloca a nova geração, os filhos que nascem em SP, em contato com a cultura dos pais e mães nordestinos, possibilitando inclusive que a torcida passe, como de costume, de forma hereditária aos descendentes.

Assim, a cada dia mais gente se junta, vai a caravanas, assiste às partidas, tomam suco de cajá, falam oxente e respondem com segurança: Meu time aqui em São Paulo? SPORT.