Uma guerra que não pode ser nossa

Por Gutemberg Dias

A violência toma conta do Brasil. Os números, de forma silenciosa, mostram que vivemos uma guerra não declarada em vários estados e cidades.

Ao analisarmos os números, o Brasil entre os anos de 2011 e 2015 computou 278.839 mortes intencionais. Esse número é maior que as mortes registradas na guerra da Síria que foram de 256.124, no mesmo período. Não resta dúvida que estamos em guerra. Agora que guerra é essa? De quem é essa guerra?

Quanto a quem morre, observa-se que 54% das mortes acometem jovens entre 15 e 24 anos. Outro número que merece destaque é que 73% das pessoas assassinadas são pretos e pardos. Esses números denotam, claramente, que a população mais pobre está mais vulnerável a violência no Brasil.

Os investimentos na segurança pública são volumosos. Em 2016 foram investidos 76,3 bilhões. Entre os anos de 2002 e 2015 aconteceu um crescimento de 62% nos recursos destinados a segurança. Já as despesas com a segurança pública equivalem a 1,38 do Produto Interno Bruto (PIB). Será que ainda falta dinheiro ou ele está sendo empregado de forma equivocada?

Os municípios (224,9%) investiram mais em segurança pública ante a união (86,9%) e os estados (61,9%). Essa desproporção nos investimentos se assenta na corrida dos gestores municipais em dar resposta aos munícipes. O cidadão está ali perto do prefeito que é cobrado sistematicamente para garantir sua segurança e de seus familiares.

Verdadeiros exércitos de guardas municipais estão sendo formados.Os números apresentados acima estão no 10º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, que foram lançados em novembro do ano passado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). Como diz um amigo matemático – “os números não mentem”.

Descendo para o estado do Rio Grande do Norte, os números apresentados pelo Observatório da Violência do RN (OBVIO) mostram que nos três primeiros meses do ano já batemos todos os recordes de mortes intencionais, ou seja, a violência está instalada sem previsão de arrefecimento no estado onde o mote do governo é a segurança pública.

Os números apresentados pelo OBVIO são alarmantes. No ano passado (2016) nesse mesmo período tínhamos uma contagem na ordem de 381 assassinatos, hoje já temos 515 casos registrados, ou seja, um aumento de 35,17% no mesmo período comparando 2016 e 2017.

Vale destacar que os casos de mortes intencionais tem sua maior incidência na região metropolitana de Natal e, conforme dados do OBVIO, já passam dos 65%. Em números absolutos a capital lidera na região metropolitana e no estado com mais de 130 mortes.

Mossoró não é diferente. Estamos vivenciando momentos críticos na segurança pública. O cidadão já não tem a mesma coragem de estar nas ruas. Quando decide sair sempre está na retranca e atento ao ambiente ao seu entorno. Podemos dizer que o mossoroense está em constante estado de alerta.

A chacina ocorrida na última semana, que ceifou a vida de seis jovens, mostra que a violência em nossa cidade não está para brincadeira. Infelizmente o governo do estado e, também, a segurança pública municipal não se compadeceram em relação a esse crime bárbaro. Me corrijam se eu estiver enganado!

É chegada a hora da população começar a se movimentar de forma organizada para cobrar das autoridades ações efetivas e enérgicas em relação a insegurança. Não é possível ficarmos calados quando, só nesse três primeiros meses, 50 mortes intencionais já foram registradas na cidade. Sem contar as vítimas que se encontram internadas com risco de morte, podendo, a qualquer momento, aumentar o número.

Fora as mortes intencionais, soma-se ao bolo da insegurança os assaltos nas ruas, invasões de residências, roubos de caros e motos e furtos que se alastraram na cidade. Vale destacar que hoje não existe mais horários específicos para os ataques, basta existir a oportunidade que os meninos do mal cometem seus delitos.

No início desse artigo fiz alguns perguntas. Espero que você possa responder e me ajudar a compor o cenário que vivemos. Bem como, faço um último questionamento, talvez muito simples e claro:

– Você acredita no modelo de segurança pública oferecido pelo estado brasileiro (leia-se municípios, estados e união)?

Eu já tenho minhas respostas, mas quero ver a sua!