Mais de 440 mil tomam as ruas do país contra o desmonte da Previdência

De acordo com balanço da Frente Brasil Popular, que, com a Frente Povo Sem Medo, organiza as ações, mais de 440 mil trabalhadoras e trabalhadores foram às ruas nesta quarta-feira (15), em mais de 20 capitais, contra a proposta de reformas da Previdência e trabalhista.

Ato na Paulista contra a Reforma

Desde as primeiras horas da manhã, diversas categorias como metroviários, metalúrgicos, condutores, bancários, químicos, professores municipais e estaduais, servidores públicos, cruzaram os braços em rechaço à proposta de desmonte do Estado Social brasileiro, que ameaça os direitos.

Os protestos movimentaram o governo durante todo o dia. Temer não comentou as manifestações, mas voltou a dizer que a reforma é urgente para equilibrar as contas do governo.

“Não podemos fazer uma coisa modestíssima. Ou daqui a quatro e cinco anos temos de fazer como Portugal, Espanha e Grécia”, afirmou ele em discurso durante evento do Sebrae e do Banco do Brasil.

Em São Paulo, a paralisação do metrô e ônibus deram o termômetro da adesão ao movimento. A pedido do governo de São Paulo, o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) concedeu liminar obrigando o funcionamento pleno do metrô, caso contrário pagaria multa de R$ 100 mil por dia. Mesmo assim, a categoria decidiu manter a grave por considerar que a ameaça de Temer aos direitos é mais grave.

O transporte voltou a funcionar parcialmente, ainda no começo da manhã, como forma de minimizar os efeitos da paralisação.

No ABC, os metalúrgicos da Volkswagen decidiram em assembleia interromper as atividades por 24 horas em protesto contra a reforma.

“O empenho de todas as categorias nesse dia de mobilização está muito forte. Os motoristas pararam já de madrugada. Sem ônibus, fizemos uma assembleia com os cerca de 600 trabalhadores que chegaram de carro e optamos por cancelar a caminhada e manter a fábrica parada por todo o dia”, disse o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques.

“Enquanto o governo insistir nessa reforma, vamos continuar realizando nossas mobilizações. Estaremos na rua em defesa dos nossos direitos”, completou.

Professores da rede estadual, municipal e de algumas escolas particulares realizam assembleias e depois seguem para Avenida Paulista, para o ato que contará com a participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

No Rio de Janeiro, os trabalhadores de mais de 40 escolas particulares pararam e se concentraram no Largo do Machado. A BR 356 que dá acesso ao porto do Açu foi fechada por manifestantes e o aeroporto também permaneceu fechado. Mais de 60 agências bancárias estão fechadas.

Em Minas Gerais, 100 mil pessoas foram às ruas da capital Belo Horizonte, mas também ocorreram paralisações descentralizadas. Os metalúrgicos de Juiz de Fora realizaram ato em frente à Mercedes Benz. Uberaba e Mariana também registraram manifestações contra a reforma da Previdência.

No Espírito Santo mais de 3 mil pessoas foram às ruas de Vitória. Em Brasília, o ministério da Fazenda foi ocupado por manifestantes e a passeata contou com a participação de mais de 20 mil pessoas.

Em Tocantins, Palmas cerca de 2.500 pessoas participaram do ato. Em Goiás, 25 mil pessoas fizeram parte do protesto.

Na Bahia, embora a principal manifestação seja agora no período da tarde, a concentração em frente ao Shopping Iguatemi reuniu 10 mil pessoas. Em Recife, 40 mil participantes fizeram a caminhada nas ruas do centro, em Caruaru, 2 mil pessoas e em Petrolina 10 mil pessoas participaram da manifestação. Em Fortaleza, 20 mil pessoas participaram da passeata.

No Maranhão, 2 mil pessoas também percorreram o centro da cidade e no final a manifestação se dividiu em duas e terminou em locais diferentes. No Acre, a grande marcha contra a reforma da previdência reuniu 7 mil pessoas. Em Rondônia, 5 mil e em Roraima 2 mil pessoas.

De acordo com informações da secretária-geral da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil no Pará (CTB-PA), Márcia Pinheiro, a manifestação em Belém reuniu mais de 10 mil pessoas protestando contra a reforma da previdência pelas ruas centrais da capital paraense.

No Mato Grosso do Sul, 20 mil pessoas participaram do ato que terminou na casa do deputado federal Carlos Marun (PMDB), presidente da comissão que analisa a reforma da Previdência na Câmara.

Nas redes

A hastag #GreveGeral ficou durante todo o período da manhã como a palavra mais comentada no Twitter. A criatividade dos internautas também marcou o dia. “Gente, tô fazendo as contas aqui, e não vai dar pra me aposentar nessa vida!”, ironizou um internauta, se referindo à proposta de idade mínima para se aposentar de 65 anos, com pelo menos 25 anos de contribuição, sendo que para receber 100% do valor, será preciso contribuir por 49 anos, mesmo que o trabalhador tenha atingido os 65.

A grande mídia seguiu o discurso de criminalização dos movimentos, descrevendo os atos como uma ação que prejudica os trabalhadores, sem tratar dos pontos da reforma, nem sequer entrevistando lideranças para falar sobre a mobilização.

Em entrevista à RBA, Raimundo Bonfim, coordenador geral da Central de Movimentos Populares (CMP), destacou a forte presença popular nos protestos. “Está caindo a ficha da população. No momento do impeachment a coisa era mais politizada, mais difícil de debater e de dialogar com a população. Nesse momento, é uma questão concreta, a população está fazendo as contas. Não é uma coisa que depende de filiação partidária, o prejuízo vai ser de todos os trabalhadores pobres”, avalia.

Bonfim destaca ainda o fato de os metroviários terem sido aplaudidos pela população ao explicar os motivos da paralisação para usuários que não puderam utilizar o transporte. E isso, segundo ele, ocorreu mesmo com parte da mídia não divulgando as motivações dos atos, falando somente do “transtorno” que os movimentos estariam causando, omitindo se tratar de uma mobilização para barrar a reforma da Previdência. “Isso demonstra que a população está consciente do que está acontecendo”, aponta.