Moro decreta sigilo, mas depoimento de Emílio Odebrecht é vazado

O juiz Sérgio Moro determinou nesta segunda-feira (13) que o depoimento do empresário Emílio Odebrecht, prestado na ação penal da Lava Jato, em Curitiba, fosse mantido em sigilo. Mas o conteúdo foi vazado à imprensa no mesmo dia, poucas horas depois de encerrada a audiência. E não se trata somente do áudio, que alguns poderiam dizer que foi uma estratégia dos advogados. Trata-se das imagens gravadas pelo próprio tribunal comandado por Moro.

Depoimento de emílio Odebrecht a Moro - Reprodução

Emílio Odebrecht depôs na ação que o ex-ministro Antônio Palocci é acusado de atuar para favorecer os interesses da empreiteira junto ao governo federal. Os advogados dos delatores solicitaram que os depoimentos fossem mantidos sob sigilo.

O Ministério Público Federal (MPF) chegou a solicitar a publicidade dos depoimentos, mas o juiz decretou o sigilo das oitivas afirmando que o empresário é um dos 78 delatores da empreiteira na Procuradoria-Geral da República (PGR) e as delações estão sob sigilo no Supremo Tribunal Federal (STF). No entanto, o Paraná Portal afirma que teve acesso ao conteúdo sigiloso minutos antes da decretação de sigilo. A TV Globo também disse que teve acesso às informações.

Parte 1

Parte 2

No depoimento de quase 40 minutos, Emílio Odebrecht desmentiu a tese dos promotores de Curitiba e disse ao juiz Moro que jamais tratou de pagamentos ilícitos com Antonio Palocci (PT).

Emílio disse que a empresa estabeleceu uma política de doações para todos os partidos. “Existia uma regra: ou contribuiu para todo mundo ou não contribuiu para ninguém”.

A procuradora federal presente à audiência questiona se nos encontros com autoridades e políticos era discutido questões de interesse da empreiteira. "Claro, acho que seria algo irreal um empresário ter um encontro com uma autoridade que ele não leve seus problemas como empresário", respondeu.

Moro, por sua vez, voltou a insistir na tese de “departamento”: “Mas as contribuições que eu estou indagando o senhor não são as contribuições gerais. São pagamentos desse departamento de operações estruturadas. Minha pergunta é especifica sobre esse ponto. O senhor tem conhecimento ou não?”

E Emílio foi enfático: “O senhor me permite, por favor, dentro da linha que o senhor me pediu para eu falasse a verdade: não existe dentro na organização departamento. Não existiu nada disso. Existiu um responsável por operacionalizar recursos não contabilizados. Foi dada essa nomenclatura não sei como. Isso a imprensa vem repetindo, repetindo como se fosse uma verdade, e não é”.

Moro então perguntou: “O senhor conversou sobre esse pagamento com o senhor Palocci?”. “Não senhor”, respondeu o empresário.