Estrangeiros e grandes fundos devem protagonizar leilão por aeroportos

Os empresários brasileiros que aderiram ao golpe devem estar arrependidos. A estratégia econômica adotada pelo governo Michel Temer tem agravado a crise para as companhias nacionais, enquanto abre as portas às estrangeiras. Um retrato disso deve ser o leilão de concessão dos aeroportos de Salvador (BA), Fortaleza (CE), Porto Alegre (RS) e Florianópolis (SC). Marcada para quinta (16), a licitação tende a ser protagonizada por companhias internacionais e fundos de investimentos.

aeroporto poa

A abertura do pré-sal às empresas estrangeiras – acabando com a participação mínima da Petrobras nos blocos exploratórios – o desmonte da política de conteúdo local, a abertura de concorrências da Petrobras apenas para companhias de fora do país. Estas são algumas das ações do atual governo que vão na contramão dos interesses das empresas nacionais.

E mais: sem que o governo tome medidas no sentido de solucionar a crise de endividamento do setor privado e com as empresas nacionais atingidas pela Operação Lava Jato impossibilitadas de participar de licitações e com dificuldades de acesso a crédito, a tendência é de um aprofundamento na desnacionalização da economia. E cada dia fica mais evidente que o compromisso das forças que tomaram o poder é mesmo com o capital internacional.

De acordo com reportagem de O Estado de S.Paulo, a lista de candidatos ao primeioro leilão de aeroportos da era Temer é ampla. Entre as operadoras estrangeiras de aeroportos, estão as espanholas AviAlliance, Aena e OHL, a suíça Zurich, a argentina Corporación América, a alemã Fraport e a francesa Vinci. Do lado brasileiro, surgem grandes fundos de investimento, como Pátria e Vinci Partners, a empresa de infraestrutura CCR e algumas construtoras, como a CR Almeida.

Segundo o jornal, a maioria delas ainda definia se participaria ou não da licitação. “Fontes ouvidas pelo Estado afirmam que a tendência é que as estrangeiras participem da licitação em parceria com empresas ou fundos brasileiros. (…) Mas algumas podem entrar sozinhas, como a Corporación América, que já administra os aeroportos de Brasília e de Natal”.

Se, no passado, as concessões à iniciava privada eram protagonizadas por grandes construtoras verde-amarelas, no Brasil de Temer o cenário parece ser bem diferente. Outra mudança é que a Infraero, que nos últimos leilões teve participação compulsória de 49% em todos os aeroportos, foi excluída das concessões de Temer. Trata-se mesmo de uma medida para tentar atrair o investidor estrangeiro.

Na verdade, não se sabe sequer se o leilão de quinta será competitivo. “Fontes do governo acreditam que o leilão terá interessados, mas não descartam a possibilidade de algum lote dar vazio, ou seja, não ter interessados, escreve o Estadão.

Com a recessão aprofundada pela atual gestão, em 2016, o volume de passageiros caiu 19% em Salvador, 13% em Fortaleza, 9% em Porto Alegre e 5% em Florianópolis, afirmam fontes ouvidas pelo jornal. A queda na demanda atrapalharia a elaborações das propostas, afirma um candidato ao leilão.

O discurso do governo, que rejeita a ideia de o Estado ajudar na recuperação da economia e investe todas as fichas na iniciativa privada, é de que o leilão deve injetar ânimo na atividade econômica, após dois anos de recessão. A gestão espera arrecadar pelo menos R$ 3 bilhões em outorgas com a concessão dos aeroportos, e a previsão é que sejam investidos R$ 6,613 bilhões nos quatro terminais.