Eleições na Holanda podem favorecer extrema-direita

Gert Wilders, do Partido da Liberdade holandês (PVV), é apontado como um dos favoritos na eleição da próxima quarta-feira (15) no país. A questão dos refugiados é apontada pela mídia como um dos elementos que favoreceu o crescimento dos direitistas no país nos últimos 4 anos.

Gert Wilder

Na cidade de Volendam, que praticamente não tem imigrantes ou refugiados, o sentimento é de que os muçulmanos estão ameaçando o estilo de vida local. A religião é seguida por cerca de 6% da população do país e não tem registrado crescimento de fiéis, mesmo com a onda de refugiados que buscaram alívio na Europa após o terrorismo ter varrido a Líbia, a Síria e parte do Iraque nos últimos 10 anos.

"Antes, vinham espanhóis trabalhar aqui e nós gostávamos. Agora chegam muçulmanos que vêm impor suas leis. Eles roubam nossas tradições. Vou votar em Wilders, ele é o único político que defende a Holanda e nosso povo", diz Don Caruso, um senhor de 75 anos e com nome de tenor.

Atingido pela boataria espalhada pela extrema-direita, ele acredita que o governo do seu país "dá casas e seguro-desemprego" a todos os que procuram o país. Caruso expande seu descontentamento ao falar de Bruxelas: "Odeio. Odeio a Europa. O dinheiro vai para a Turquia, vai para ajudar a Grécia. Horroroso". A extrema-direita, para ele, é a única força que poderia "parar" esse processo.

O programa do PVV reflete isso, amedrontando os holandeses com o fantasma do islamismo e a proposta de fechar as portas do país para quaisquer refugiados. O discurso tem funcionado e Wilders deve concorrer com o atual premiê, Mark Rutte, um liberal de direita. Rutte também investiu no medo para ganhar a eleição: sua campanha tem bandeiras que poderia ser do rival. Ele é apontado também como o candidato que menos investe em educação.

O pesquisador do Instituto de Relações Internacionais Clingendael, Adriaan Schout, de Haia, assegura que as pessoas votarão pensando em "questões paralelas" que aumentaram o apelo do direitismo, como a insegurança, a globalização, a diminuição de postos de trabalho por causa dos avanços tecnológicos ou a integração dos muçulmanos.

Para Schout, o PVV não é demasiado imporante. "Os 20% de apoio que ele parece ter é o mesmo que a extrema direita tem em outros países. Vejamos Marine Le Pen, a Bélgica, Suécia, Áustria, Dinamarca… Não é um fenômeno exclusivo da Holanda", analisa, em entrevista por telefone para o jornal espanhol El País. Para ele, um político que não tem planos claros por medo de ser atacado não tem chances de chegar ao governo: "muita gente dá razão para ele no assunto da imigração, mas não quer sair da União Europeia, como propõe Wilders. Ele é mais radical que seus próprios eleitores", afirma.