Meirelles elogia política econômica de Lula e diz que não viu ilícitos

Em depoimento ao juiz Sérgio Moro como testemunha de defesa, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, reconheceu, na manhã desta sexta (10), que a política macroeconômica adotada durante o governo Luiz Inácio Lula da Silva gerou resultado positivo para o país. Na sua fala, ele negou que tenha visto qualquer irregularidade durante o tempo em que presidiu o Banco Central no governo do ex-presidente, entre 2002 e 2011.

Henrique Meirelles

Meirelles foi ouvido como testemunha de Lula, na ação penal que trata do caso do tríplex no Guarujá (SP). O depoimento foi feito por meio videoconferência.

“Sim [a politica gerou resultado positivo]. O grande fator daquele período foi, em primeiro lugar, a estabilização da inflação, da economia brasileira, em consequência queda dos custos financeiros de financiamento do Tesouro e das empresas e etc. Isso que gerou aumento do crédito e do crescimento. Paralelamente, o governo implantou politicas de cunho social visando complementar renda ou suprir renda para a camada de menor capacidade de rendimento da população e acredito que isso foi processo complementar, sim, da recuperação econômica do Brasil”, disse o ministro.

Meirelles ainda afirmou que sua relação com Lula era centrada em questões relacionadas ao Banco Central e à política econômica e que nunca presenciou nada que pudesse ser considerado ilícito.

"A minha relação com o presidente Lula era totalmente focada em assuntos relativos ao Banco Central e à política econômica e, nesta interação, eu nunca vi ou presenciei nada que pudesse ser identificado como algo ilícito ou ilegal", declarou.

O ministro disse ainda que não teve acesso a qualquer informação sobre suposta presença de estrutura criminosa no governo Lula e declarou nunca ter visto qualquer indício de compra de apoio parlamentar. “Eu não tive acesso a nenhum tipo de informação sobre isso inclusive porque não era o papel do Banco Central”, afirmou.

O titular da Fazenda também negou interações com parlamentares para defender interesses políticos do governo em geral ou da área em que atuava. "Minhas presenças no Congresso diziam respeito, exclusivamente, a assuntos do Banco Central. Para ser mais específico, pode ter havido momentos em que algum parlamentar possa ter pedido alguma audiência ao Banco Central para mencionar alguma situação específica, alguma coisa que interessasse ao Banco Central", afirmou.

Meirelles foi questionado pela defesa de Lula se costumava se encontrar com deputados durante a gestão de Lula, a exemplo dos que tem feito agora, estabelecendo interlocução com parlamentares para discutir a proposta de Reforma da Previdência. Segundo o ministro, o carno no BC tinha natureza diferente daquele que ocupa atualmente.

“O cargo de ministro da Fazenda é um cargo que tem por definição uma inter-relação direta [com os parlamentares] na medida em que, inclusive, estamos propondo diversas emendas constitucionais que envolvem negociação com parlamento”, disse.

Ele contou que foi convidado pelo presidente Lula para comandar o Banco Central em um momento em que o país estava em crise. “Ele me perguntou se era possível enfrentar a crise e quais seriam as condições para eu aceitar [o convite]. Eu disse a ele que sim, que era possível contornar a crise, e que poderia aceitar, desde que o Banco Central tivesse independência de ação, e ele concordou”, relatou Meirelles.

O ministro acrescentou que sempre teve independência para tomar decisões, mesmo com as divergências que teve com outros representantes do governo.

Pergunta indeferida

Depois de o chefe da política econômica do governo Michel Temer afirmar ao juiz Sergio Moro que o Brasil registrou progressos durante os mandatos de Lula, a defesa do ex-presidente perguntou ao ministro se ele achava que esse governo tinha trazido benefícios ao país – e não buscado benefícios para governantes e pessoas do alto escalão. O questionamento, no entanto, foi indeferido por Moro.

"Não é uma pergunta apropriada, perguntando a opinião da testemunha. Ele responde apenas fatos", disse, provocando certo embate com a defesa. O advogado de Lula, Cristiano Zanin Martins criticou "esse critério", o que foi logo rebatido por Moro.