África do Sul: xenofobia, a violência cíclica

A comunidade de Jeppestown, em Johannesburgo, viveu saques e intimidação no último incidente de um surto de violência com perfil xenófobo na África do Sul.

Bandeira da África do Sul

As jornadas recordam o ocorrido há dois anos, quando uma onda de ataques começou em Durban, província de KwaZulu-Natal, e se estendeu por vários pontos do país.

Agora o sentimento anti-imigrante eclodiu em Pretória Oeste, e toca Jeppestown.

A situação torna-se mais grave à luz das atuais ameaças de violência e destruição de bens dirigidos a não nacionais que residem na África do Sul, sublinhou Zuma no dia 24 de fevereiro em um comunicado difundido pela Presidência.

O mandatário pediu calma e moderação, e condenou energicamente a violência, depois que uma marcha contra os imigrantes pelas ruas de Pretória se transformou em um campo de batalha.

Como consequência disso, pelo menos 136 pessoas foram detidas em conexão com as tensões entre estrangeiros e nacionais em Pretória Oeste, segundo informou o comissário nacional interino da Polícia, Kgomotso Phahlane.

Os residentes de algumas regiões culpam os imigrantes pela escalada de delitos e criminalidade, especialmente o narcotráfico.

Em muitos casos veem na chegada dos estrangeiros o perigo de perder seus empregos e oportunidades econômicas. 'Este é um dos fatores que conduzem à violência xenófoba', advertiu o ministro de Assuntos Internos, Malusi Gigaba.

Durante um recente serviço religioso em Sunnyside, bairro desta capital habitado em sua maioria por estrangeiros, o ministro acusou as práticas de algumas companhias 'sem escrúpulos', como as responsáveis pela crescente animosidade.

'Confrontam os sul-africanos contra os imigrantes' em sua corrida por obter 'maiores ganhos com o salário mais baixo', explicou Gigaba ao referir-se à exploração do trabalhador imigrante sem proteção legal.

Tal situação põe em desvantagem os empregados locais, disse Mamelodi Concernid Residents, um grupo surgido a raiz desta conjuntura, que apresentou um memorando no Departamento de Assuntos Internos.

'É a brutalidade do sistema capitalista' que não se preocupa com o ser humano, expressou Gigaba, que em janeiro se reuniu com os líderes da indústria turística para pedir que se cumpra a lei em relação ao emprego de imigrantes e sul-africanos.

As mencionadas práticas têm terreno fértil em uma nação onde subjazem problemas socioeconômicos como o alto nível de desemprego e desigualdade.

Estes problemas 'provocam uma maior concorrência por emprego, serviços sociais básicos e oportunidades de negócios dentro e entre diversas comunidades', opinou o sociólogo Crispen Chinguno, da Universidade de Witswaterand.

As vozes contra estas manifestações são ouvidas de diferentes setores da sociedade. O ex-presidente Thabo Mbeki condenou o recente protesto anti-imigrante nesta capital.

Mbeki, recém empossado como reitor da Universidade da África do Sul (Unisa), recordou que neste país 'nunca devemos esquecer os enormes sacrifícios que fizeram os irmãos da África para nos ajudar a alcançar nossa libertação'.

O governo, que chamou a atacar a raiz do problema tendo em consideração os acontecimentos de 2015, reiterou seu compromisso de luta contra o crime com o objetivo de promover comunidades mais seguras. 'Nosso povo não pode continuar vivendo no medo', sublinhou o presidente Zuma.

Também afirmou que 'muitos cidadãos de outros países que vivem na África do Sul são respeitosos à lei e contribuem positivamente para a economia do país'.

É incorreto culpar a todos os não nacionais como traficantes de drogas ou de pessoas. 'Isolemos aqueles que cometem tais crimes e trabalhemos com o governo para que os prendam, sem estereotipar e causar danos a inocentes', acrescentou o governante.

Cerca de 3.700 mil imigrantes procedentes de diferentes países africanos abandonaram a África do Sul há dois anos como resultado da onda de ataques xenófobos, informou nesse momento o ministro Gigaba.

Nações como Zimbabwe, Malawi ou Moçambique repatriaram centenas de cidadãos.

Mas os acontecimentos mais graves de xenofobia registraram-se aqui em 2008, quando uma cadeia de fatos na região de Johannesburgo e Pretória provocou mais de 50 vítimas fatais e cerca de 10 mil deslocados.

A violência é cíclica – consideram alguns observadores -, como uma panela de pressão que só requer tempo.