Aloysio Nunes no Itamaraty: queda livre da política externa brasileira

Depois de uma passagem desastrosa de José Serra pelo ministério das Relações Exteriores, o presidente em exercício, Michel Temer, nomeou outro tucano para o cargo, trata-se do senador Aloysio Nunes. Conhecido pelo seu temperamento intempestivo, o novo chanceler está longe de ter a postura diplomática necessária para o Brasil retomar seu protagonismo na política externa.

Por Mariana Serafini

Aloysio Nunes - Divulgação

Para o professor de Relações Internacionais da Universidade Federal Fluminense, Manuel Domingos, a escolha de Temer reflete o fracasso completo do atual governo que “falido tenta administrar sua sobrevivência”. “O máximo que eles podem fazer é prosseguir com a trajetória improvisada do senador Serra que foi muito mal recebida no âmbito diplomático, deixou o conjunto sul-americano em apertos, desgastou a imagem do Brasil e não se credenciou com as grandes potências”, analisa.
Domingos acompanhou os acordos de cooperação científica desenvolvidos com a África ao longo dos governos Lula (2003 – 2010) e Dilma (2011 – 2016) e lamenta que agora tudo seja “esvaziado a toque de caixa, até mesmo por falta de recursos destinados à área da Ciência e Tecnologia”.

Mais que a ausência de um projeto de política externa que credencie o Brasil junto aos grandes debates do mundo, o governo Temer, ao apresentar uma agenda reacionária e correr contra o tempo para implementá-la, deixa a política externa submissa à grandes potências que parecem não estar interessadas, neste momento, como é o caso dos Estados Unidos de Donald Trump.

O professor lamenta profundamente a atuação do Brasil com relação à África depois do golpe. “Eu vejo como uma derrota, um desserviço ao país o desmonte das relações com a África. Quando falamos em estratégia, pensamos em períodos mais longos, esta relação seria fundamental do ponto de vista da Defesa Nacional e do mercado. A África é um poderoso mercado emergente e ela divide com o Brasil o Atlântico Sul. O Brasil não conseguiu aproveitar, do ponto de vista estratégico, todo este trabalho realizado nos últimos 15 anos. É uma relação que leva muito tempo para ser construída”, avalia.

O projeto de Temer vai exatamente na direção oposta do que foi construído por Lula e Dilma. Além do distanciamento da África e de outros países emergentes, o país perdeu o protagonismo na América Latina com o comportamento truculento de Serra, que chegou a ser acusado de tentativa de suborno pelo chanceler Uruguaio Rodolfo Nin Novoa. Aloysio vem para selar este projeto.

Em seu primeiro pronunciamento, transmitido através de sua página oficial no Facebook, o ministro disse que pretende aproximar o Mercosul da Aliança do Pacífico e da União Europeia, medida que vai contra os princípios do bloco. Porém, para a elite nacional que nos últimos anos afirmou constantemente que Brasil estava “isolado do mundo”, mesmo em ascensão no cenário mundial, consolidando parcerias importantes, como o Brics, o projeto de submissão de Aloysio pode parecer uma boa ideia.

No entanto, vale destacar que para outros blocos despertarem interesse no Mercosul, este deveria parecer um “negócio lucrativo”, mas depois da passagem de Serra pelo Itamaraty, as instituições latino-americanas se enfraqueceram consideravelmente. Cabe a Aloysio a dura tarefa de tentar “reparar o estrago” e ainda avançar. Para o professor Domingos, será impossível, afinal, assim como Temer, ele corre contra o tempo: este ano será destinado à aprovação forçada de medidas retrógradas, como as reformas da Previdência e trabalhista e em 2018 já tem a disputa eleitoral.

“A reconstrução da política externa brasileira só será possível em novas condições políticas e institucionais. Depois deste tumulto todo não é possível haver uma retomada serena do ponto de vista institucional do que havia sido feito antes, o que nos espera é um grande confronto de ideias e este grande confronto, a depender de quem saia vitorioso, vai definir uma nova orientação estratégica para o Brasil”, finaliza Domingos.