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Ó abre elas que elas vão passar!

Não é de hoje que os brasileiros se guardam para a chegada do Carnaval. E quando chega é uma explosão de cor, música e alegria, tudo regado a altas doses etílicas, normalmente. Porém, isso não é desculpa para reforçar o machismo. É por isso que em meio à maior festa popular do país, as mulheres levantam o estandarte da luta por direitos, sem perder a folia.

Por Mariana Serafini

Bloco Vaca Profana - Beto Figueroa

Com a ajuda das integrantes do grupo Garotas no Poder, do Facebook, fizemos um levantamento dos blocos de rua em várias cidades no Brasil onde quem comanda são as mulheres. De Porto Alegre a Olinda, há luta e resistência em defesa de direitos iguais mesmo durante os dias de festa.

Veja a lista completa para cair na folia: 

Rio Grande do Sul

Em Porto Alegre o bloco Não mexe comigo que eu não ando só nasceu de uma postagem no Facebook onde as fundadoras apresentavam a ideia de uma bateria só de mulheres. Em poucas horas a publicação já tinha centenas de adeptas dispostas a compor a folia. Hoje são mais de 60 divididas entre harmonia, bateria e brincantes.

Além de levar milhares de mulheres às ruas e no meio da festa debater as questões de gênero, as integrantes do bloco se reúnem duas vezes por semana, fora do Carnaval, para ensaiar e discutir os mais variados temas relativos ao universo feminino. “Tocamos tambores, sopros, cordas, chocalhos, agogôs, tamborins, cantamos. Tocamos terror. Somos fortes, somos muitas. Somos uma só pois não estamos sós”, diz a apresentação do bloco.

Pernambuco

Olinda é uma das principais cidades do país quando o assunto é carnaval de rua. E com relação à organização das mulheres não poderia ser diferente, já são vários os grupos feministas que organizam blocos para subir e descer as ladeiras do município histórico. O Vaca Profana nasceu em 2015 quando a produtora Dandara Pagu foi reprendida por um policial por estar com uma fantasia que deixava os seios à mostra.

O caso gerou polêmica e não demorou para outras mulheres começarem a se vestir de “vacas”. A produtora conta que no início eram apenas sete e ao final da folia eram 30. Este ano, porém, elas ganharam força através de um processo de financiamento coletivo e vão colocar o bloco na rua com mais estrutura. O mote em 2017 é “nosso corpo, nossa luta”. “A gente quer falar da liberdade não só de tirar a roupa, mas das questões de autoestima. Para a gente é legal que tenha todo tipo de corpo e cor. Não é só o peito. É a liberdade de ser o que quer ser. O Carnaval também pode ser um palco reivindicar os direitos das mulheres”, explica Dandara.

Outro bloco feminista de Olinda é o Essa Fada, o nome, segundo as fundadoras, é um trocadilho para satirizar o imaginário machista e sexista. “A ideia do bloco é chamar atenção para a naturalização do comportamento sexual da mulher, não só no Carnaval, mas durante todo o ano”, explica a jornalista Geisa Agrício, integrante do grupo.

O Grêmio Anárquico Feminístico Essa Fada, nome oficial do bloco, busca conscientizar a sociedade sobre a liberdade e o domínio das mulheres sobre seus corpos. O bloco virou uma espécie de “selo” de eventos e projetos feministas e produz atividades e shows também fora do período do Carnaval.

Impossível pensar em Pernambuco e não lembrar do Maracatu. Foi assim que nasceu o Baque Mulher, em Recife. A mestra Joana Cavalcante formou um grupo só de mulheres para tocar e dançar o Maracatu, porque normalmente cabe a elas, nesta festa, apenas dançar e costurar as vestimentas.

Na rua há 8 anos o Baque busca dar visibilidade às mulheres e dedica atenção especial às meninas das comunidades. De acordo com a apresentação do grupo, o principal objetivo é unir as mulheres para tocar maracatu, confraternizar e trocar experiências de vida.

São Paulo

Há poucos anos o Carnaval de rua de São Paulo explodiu, mas existem blocos muito tradicionais que resistem há anos, entre eles está o Ilú Obá de Mim, bloco de resistência afro-brasileira formado por 400 mulheres.

Tradicionalmente o Ilú Obá de Mim homenageia uma mulher ou mito negro eu represente a luta das mulheres por igualdade, desta vez será feito um balanço dos 12 anos do bloco com composições que marcam essa trajetória. Durante este período já foram homenageadas figuras como a escritora Carolina de Jesus, e as cantoras Leci Brandão e Elza Soares.

Com agogô, xequerê, djembé e alfaia, as mulheres cantam e dançam candomblé, jongo, maracatu, afoxé, boi, ciranda e samba. De acordo com uma das organizadoras, o Ilú Obá de Mim protege a expressão que reúne a diversidade do Brasil e a pluralidade do continente africano.

Também na capital paulista o bloco Pagu ganha as ruas levantando o estandarte em defesa das mulheres. O objetivo do coletivo é “exatar a igualdade entre os gêneros, respeito e liberdade individual do ser humano”.

O bloco cuja banda é composta apenas por mulheres convida “meninas, meninos e menines” para cair na ao som de grandes nomes da música brasileira, entre elas Gal Costa, Elis Regina, Clara Nunes, Daniela Mercury, Rita Lee, Elza Soares e outras.

Rio de Janeiro

No Rio de Janeiro quem coloca o bloco feminista na rua são as Mulheres Rodadas. O objetivo é “ensinar os foliões que não é não”. O que era para ser apenas uma reunião de amigos ganhou centenas de adeptos e hoje, em sua terceira edição, levará milhares de pessoas para a folia.

Este ano as Mulheres Rodadas encampam a campanha #CarnavalSemAssedio. Segundo a organizadora, Renata Rodrigues, esse ambiente de que “ninguém é de ninguém”, criado durante os dias de festa, abre portas para um “assédio desenfreado”. "Em festas em que as pessoas estão nas ruas, como o Carnaval, as pessoas estão mais vulneráveis e sofrerem assédio ou estupro", afirma, por isso o objetivo principal do bloco é empoderar mulheres para que elas curtam a festa livres e sem medo.

Ceará

E se depender das moças do Adeus Amélia, mulher nenhuma será vítima de violência. De forma irreverente, elas ocupam as ruas de Fortaleza com bandeiras feministas e defendem o fim da violência contra a mulher. Este ano, o mote do bloco é a importância do aleitamento materno em público.

O bloco que busca chamar a atenção para os direitos das mulheres este ano conquistou o apoio do Instituto Maria da Penha e da We World Brasil. “Termos esse apoio representa um avanço no enfrentamento as relações desiguais entre mulheres e homens, que ainda é predominante em nossa sociedade, precisamos sempre unir forças para fortalecer essa luta histórica do movimento contra todas as formas de discriminação e opressão”, afirma a Coordenadora Executiva de Políticas para as Mulheres do município, Márcia Luce.

Minas Gerais

Com o lema “tira a mão, é hora de dar um basta”, o bloco Bruta Flor dá o tom da festa em Belo Horizonte. O coletivo feminista prioriza tocar músicas de mulheres mineiras e levanta o estandarte contra o machismo.

“O Bruta Flor é um bloco de carnaval feminista, floreado por brutas mulheres militantes, cantoras, percussionistas, compositoras, dançarinas, psicólogas, assistentes sociais, professoras, sociólogas, donas de casa, estudantes, artesãs, pipoqueiras, fisioterapeutas, atletas, cabeleireiras, entre outras flores. O repertório apresenta músicas que destacam o universo feminino de compositoras residentes em Belo Horizonte”, diz a apresentação.