A classe artística é a face mais visível da oposição ao governo Temer

O episódio envolvendo o escritor Raduan Nassar e o ministro da Cultura, Roberto Freire, vem se somar à série de protestos realizados desde que Michel Temer ascendeu ao poder, em maio de 2016.

Por Lilian Venturini e José Roberto Castro

Manifestação em Cannes - Equipe do filme Aquarius

Quando Raduan Nassar foi anunciado vencedor do Prêmio Camões, em 30 de maio de 2016, Michel Temer tinha assumido semanas antes como presidente interino do Brasil. Nesta sexta-feira (17), Raduan recebeu o prêmio das mãos de Roberto Freire, ministro da Cultura do governo que acabou efetivado. Ao discursar, deixou clara sua posição, conhecida desde quando Dilma Rousseff ainda lutava para manter o mandato: o movimento de retirada da petista, na sua opinião, foi “um golpe”.
“Vivemos tempos sombrios, muito sombrios”, afirmou o autor de “Lavoura Arcaica” e “Um Copo de Cólera”.

Freire, que assumiu a Cultura em novembro de 2016 substituindo Marcelo Calero, rebateu o escritor e questionou inclusive o fato de ele aceitar o prêmio dado por um governo que ele considera ilegítimo. Foi vaiado ao dizer que fazia parte de um governo democrático e que prova disso era a premiação de um adversário político. A manifestação de Raduan não é algo isolado. Com uma oposição frágil no Congresso, a classe artística tem protagonizado, desde o afastamento de Dilma, os atos de oposição mais visíveis contra o governo Temer.

Relembre quatro episódios em que artistas protestaram contra o presidente:

Atos contra fim do ministério

Ao assumir em 12 de maio de 2016, sob um discurso de corte de gastos e redução da máquina pública, Temer anunciou o corte do Ministério da Cultura e sua incorporação pela pasta da Educação. A medida motivou os atos mais consistentes contra Temer no começo de seu governo. Artistas e estudantes deram início a uma série de ocupações a prédios de órgãos ligados à pasta. Houve atos em ao menos onze capitais. Duas semanas depois do anúncio do corte, Temer recuou e recriou o ministério, colocando em seu comando Marcelo Calero.

Protesto em Cannes

Também em maio de 2016, a equipe do filme Aquarius, dirigido por Kleber Mendonça Filho, ergueu cartazes de protesto contra o impeachment de Dilma Rousseff. O ato ocorreu na passagem pelo tapete vermelho rumo à sessão de apresentação do longa no Festival de Cinema de Cannes. O diretor e parte do elenco, incluindo a atriz Sônia Braga, posaram para fotos mostrando mensagens escritas em francês e inglês que diziam “um golpe de Estado aconteceu no Brasil”, “Brasil não é mais uma democracia” e “Resistiremos”.

“Fora, Temer” em shows

O bordão “Fora, Temer” tem sido repetido em eventos culturais e shows pelo Brasil desde a ascensão do peemedebista ao comando do país. Na quarta-feira (15), durante o Show de Verão da escola de samba Mangueira em São Paulo, o público gritou “Fora Temer” quando Chico Buarque pisou no palco. Chico é outro que faz oposição aberta ao governo e participou de outras manifestações contra o golpe.

“Fora, Temer” no Festival de Berlim

Artistas brasileiros que participaram da sessão de gala do filme “Joaquim” levantaram cartazes com críticas ao governo, na noite de 16 fevereiro de 2017, no Festival de Berlim. As mensagens escritas em alemão diziam “Fora, Temer” e “Cinema contra o golpe”. O diretor Marcelo Gomes também leu um manifesto durante a coletiva de imprensa em que classificava o governo Temer como “ilegítimo”. O texto, assinado por representantes de 11 dos 12 filmes exibidos no festival e profissionais do setor audiovisual, cobrava também a manutenção de políticas públicas voltadas ao setor.