Em tempos de Golpe: uma anticandidatura necessária

No último dia 15 (quarta-feira) foi lançada no Senado Federal a anticandidatura da professora Beatriz Vargas ao Supremo Tribunal Federal (STF). Organizada por coletivos feministas com o apoio de movimentos sociais e organizações de direitos humanos a anticandidatura de Beatriz é uma iniciativa ousada para denunciar a indicação de Alexandre de Moraes ao cargo de ministro, e, ao mesmo tempo, apontar problemas estruturais na composição do Supremo.

Por Felipe da Silva Freitas*, no Justificando

professora Beatriz Vargas - Reprodução

Ao lado de questionar a ausência de mulheres nos altos postos das carreiras jurídicas a anticandidatura também retoma uma tradição de luta que, diante do autoritarismo, aponta outras linguagens possíveis para o enfrentamento político, introduz novos significados no debate sobre a presença feminina na arena pública e produz novos tensionamentos sobre as fronteiras do judiciário brasileiro. Trata-se não de uma mera tentativa ortodoxa de criar uma alternativa ao nome de Moraes, mas, de uma criativa e arrojada tomada de posição diante do horror em que se transformaram as indicações ao STF.

Ainda que sobrem à professora Beatriz os requisitos legais e políticos para a ocupação de uma cadeira no Supremo, o principal atributo da iniciativa feminista é expor a desconformidade do processo e indicar possibilidades que contribuam para manter viva a resistência e a oposição à hegemonia medíocre construída pelo Sr. Alexandre de Moraes.

Ao denunciar o padrão rebaixado das escolhas para o STF as feministas evidenciam um desconforto, apontam um desalinhamento e indicam, pela contramão, que este governo não tem nem legitimidade democrática e nem razoabilidade política: é um governo que age sem ética, é anti-republicano e age em função de um golpe complexo e multifacetado.

O acúmulo político gerado por esta mobilização da anticandidatura é evidente. A iniciativa feminista já agitou a escolha e revelou a fraude da indicação feita pelo presidente sem votos. Agora ninguém mais pode dizer: “eu não sabia”.

Com firmeza e dignidade – típicas de quem “não tem rabo preso”– Beatriz Vargas (a nossa querida Bia) entrou e saiu do Senado Federal sem fazer acordos espúrios e sem dizer bravatas. Entre flores, aplausos e palavras de ordem Bia caminhou nos corredores do Congresso Nacional falando simples e firme, sem se esconder no juridiquês arrogante, sem reunir nos barcos luxuosos e sem escorregar nos plágios malditos: Bia é uma anticandidata do tamanho que a luta democrática merece.

E assim, em tempos de truculência, seguimos caminhando e aprendendo, pois, relembramos com as feministas que na contramão se faz direito.