Após Aécio ser chamado de traidor, Velloso recusa convite de Temer

Antes mesmo de aceitar oficialmente o cargo de ministro da Justiça no governo de Michel Temer (PMDB), Carlos Velloso, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), foi derrubado. Estava tudo certo para a nomeação, mas como diz o ditado: faltou combinar com os russos.

Carlos Velloso - Agência Brasil

Amigo e advogado do senador Aécio Neves (PSDB-MG), Velloso foi indicado pelos tucanos para substituir Alexandre de Moraes, indicado para a vaga no STF. Velloso atua como advogado do presidente do PSDB em dois processos que responde como desdobramento da Lava Jato.

Mas a bancada do PMDB no Congresso não gostou da ideia e reivindicava que a vaga fosse preenchida por um peemedebista. Apesar das críticas, o governo Temer ignorou os correligionários e confirmou o convite ao ex-ministro do STF nesta quinta-feira (16), após encontros no Palácio do Planalto.

Pronto, estava instaurada a crise entre PMDB e PSDB. Era possível ver faíscas nos bastidores do Congresso. Parlamentares do PMDB reagiram à indicação oficial e chegaram a chamar Aécio de "traidor".

Há cerca de duas semanas, quando só havia especulações sobre a sua indicação, Velloso dava entrevistas aos jornais relatando as conversas que matinha com o "amigo" Temer no Palácio, num tom de ministro que estava tomando pé da situação.

Apesar das especulações sobre a indicação de seu nomes e do assédio da imprensa, Velloso se limitou a dizer que estava conversando com Temer e que o convite para o ministério não havia sido feito.

Após a oficialização do convite e diante da reação dos aliados, Velloso pediu prazo até esta sexta (17) para responder. Comunicou Temer a sua recusa em aceitar o cargo de ministro da Justiça por questões profissionais, segundo informou Gerson Camarotti, da Globonews.

Ele teria que romper contratos do seu escritório de advocacia para assumir a nova função. A pressão familiar também teria pesado na decisão, já que o ex-ministro assumiria um cargo estratégico no governo, num momento de turbulência por causa de revoltar em presídios em vários estados.

Com a recusa, resta saber se Temer vai atender o pedido de seus aliados no PMDB ou vai manter o cargo no comando dos tucanos.

Leia a íntegra da nota divulgada por Velloso:

Comunicado à imprensa

Comuniquei, hoje, ao Sr. Presidente da República, a impossibilidade de aceitar o seu convite para ocupar o honroso cargo de Ministro de Estado da Justiça.

Não obstante meu desejo pessoal de contribuir com o país, neste momento tão delicado, compromissos de natureza profissional e, sobretudo, éticos, levam-me a adotar esta decisão.

É que acredito no adágio “pacta sunt servanda” (o contrato é lei entre os contratantes), pilar do princípio da segurança jurídica.

Continuarei à disposição do Presidente Temer, amigo de cerca de 40 anos, para auxilia-lo de outra forma, na missão que o destino conferiu ao consagrado constitucionalista de recolocar o Brasil nos trilhos do desenvolvimento econômico, com justiça social.

51 anos de serviço público e, dentre estes, 40 de magistratura, deixam-me seguro de que dei a minha cota de serviço à causa pública.

Brasília, DF, 17 de fevereiro de 2017.

Carlos Velloso