Nirez: 100 anos de samba

“Pode-se afirmar que o atual carnaval de Fortaleza, vindo de suas raízes e de características nossas é o do Pré-Carnaval, em que não existem normas, regulamentos, horários, em que as pessoas podem se divertir realmente, o que o desfile oficial não permite”.

Por *Nirez

O samba Releitura Carybé. - Bernadeth Rochar/ Reprodução Internet

É uma velha discussão o nascimento do samba. Na verdade, o ritmo existia já há muito tempo, mais de 100 anos, quando surgiu em 1917 o “Pelo telefone”. É que ele vinha “disfarçado” de polca, maxixe, toada e, principalmente de lundu.

Com o designativo de samba como ritmo, o mais antigo gravado em disco foi em 1910, com “Quando a mulher não quer”, sem autoria e gravado pelo cantor baiano Arthur Castro, disco Columbia 1638. Outros sambas foram gravados até a gravação de “Pelo telefone”.

A importância, porém, da gravação de “Pelo telefone”, de Donga e Mauro de Almeida, e gravado por Bahiano na Odeon 121322 para o carnaval de 1917, é pelo sucesso por ele alcançado, tanto que várias vezes foi relembrado em outros sambas e ele próprio regravado várias vezes. O samba só veio a fixar-se com o compositor José Barbosa da Silva “Sinhô”, que foi seguido por José Francisco de Freitas, Caninha, Careca, Chico da Bahiana, Costinha, Freire Júnior, e outros até surgir o samba do Estácio, criado pelos compositores Alcebíades Barcelos “Bide”, Ismael Silva, Nílton Bastos, Benedito Lacerda, e outros. O Carnaval de Fortaleza aproveita o tema para explorar e reviver o “Pelo Telefone” no seu centenário.

Em Fortaleza, com o arrefecimento do carnaval ocasionado pela ridícula imitação do espetáculo da Marquez de Sapucaí no Rio de Janeiro, ganhou, aos poucos, um rico carnaval de bairros que se manifesta antes da festa chamada de Pré-Carnaval, em que a população se manifesta com criatividade por meio de blocos cantando músicas próprias e outras tradicionais exibindo uma alegria bem maior que a que temos na avenida Domingos Olímpio.

Pode-se afirmar que o atual carnaval de Fortaleza, vindo de suas raízes e de características nossas é o do Pré-Carnaval, em que não existem normas, regulamentos, horários, em que as pessoas podem se divertir realmente, o que o desfile oficial não permite.

Depois de nosso Carnaval ter como homenageados os cearenses Lauro Maia, Humberto Teixeira e Evaldo Gouveia, os maiores compositores de nossa terra, não tem como não me sentir muito honrado em ter sido escolhido para ser homenageado neste Carnaval de 2017, embora sabedor de que existem muitos outros nomes mais importantes que o meu, que sou apenas um estudioso no assunto e amante do Carnaval.

Mas o importante mesmo é brincar o Carnaval, vamos às ruas e vamos distribuir nossa alegria e nossa criatividade nesses dias de folia com força e determinação para que fique em nossa lembrança por toda a vida e deixe uma herança cultural para os outros carnavais que virão.

*Nirez (Miguel Ângelo de Azevedo) é jornalista e pesquisador.

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