Efeito Lava Jato: Reduzida à metade, Odebrecht já demitiu 50 mil

A Operação Lava Jato, sob pretexto da necessária luta contra a corrupção, tem promovido o desmonte de grandes empresas nacionais. É o caso da Odebrecht. Tida como uma das maiores construtoras da América Latina, a companhia tem hoje metade do tamanho de quando passou a ser investigada. É o resultado de uma estratégia que, ao invés de responsabilizar aqueles que praticaram malfeitos, penaliza a economia e, por conseguinte, o povo brasileiro.

Sede da Odebrecht

De acordo com reportagem da Folha de S. Paulo, a Odebrecht Engenharia e Construção – principal fonte de recursos do grupo ao qual faz parte – demitiu mais de 50% dos 107 mil trabalhadores que possuía. Segundo projeção da própria empresa (os resultados ainda não foram fechados), seu faturamento também despencou em 2016, com uma queda de 57% na comparação com 2014.

Desde que se viu envolvida nos escândalos investigados pela Lava Jato, a construtora tem encontrado dificuldade de obter novos contratos. Teve que vender ativos para reduzir dívidas, viu seu risco de calote ser elevado por agências avaliadoras, enfrenta então dificuldades de crédito e foi proibida de fechar negócios com diversos países – uma enorme barreira, já que a companhia possui mais de 70% de sua carteira de lucros com contratos fora do Brasil. São dificuldades que tornam cada dia mais difícil a superação da crise que atravessa.

Conforme noticiou a Folha, entre dezembro de 2014 e setembro de 2016, a carteira de obras da Odebrecht saiu do recorde de US$ 33,9 bilhões (R$ 105,7 bilhões) para US$ 21,3 bilhões (R$ 66,4 bilhões), uma queda de 37%. Para piorar, 40% das obras que continuam sendo executadas, andam em ritmo muito lento, devido à recessão no Brasil e as crises na Venezuela e em Angola.

Matéria do El País informa ainda que a agência de classificação de risco Fitch – quem rebaixou a nota da empresa – crê que, este ano, as receitas do grupo Odebrecht devem cair 15% em relação a 2015.

Como consequência da Lava Jato, a companhia assinou um acordo de leniência com os governos dos Estados Unidos e da Suíça. Depois de assumir ter pago suborno em troca de obras em diversos países, a Odebrecht e a Braskem – seu braço petroquímico – terão que pagar uma multa de quase R$ 12 bilhões.

“A capacidade de a companhia recompor sua carteira de obras foi adicionalmente impactada após a divulgação de detalhes do acordo de leniência. As informações publicadas ampliaram o risco de imagem da empresa e desencadearam uma série de investigações em países onde a companhia opera”, diz nota da agência.

O problema maior tem sido o dano à imagem da Odebrecht. Tudo isso findou por expor a companhia, algo que tem sido utilizado politicamente, complicando a obtenção de novos contratos. Num esforço para reduzir as dívidas, a empresa decidiu vender ativos, totalizando R$ 12 bilhões.

Diversos especialistas têm ressaltado que o combate à corrupção não pode se dar às custas da destruição da economia brasileira. Ao invés de responsabilizar as pessoas que cometeram malfeitos, a Lava Jato tem promovido um verdadeiro ataque às empresas, indispensáveis para a retomada do crescimento e a manutenção dos empregos no país. Diversas consultorias calcularam que a operação causou prejuízo de cerca de R$ 120 bilhões à economia.

O procurador do Ministério Público Federal e ex-ministro da Justiça Eugênio Aragão é um dos que questiona qual será, afinal, o saldo das investigações. “A Lava Jato se gaba de ter devolvido ao país R$ 2 bilhões. E quantos bilhões a gente gastou para isso? Do ponto de vista econômico, essa conta não fecha”, computa.

Em entrevista ao Jornal da Cultura, concedida em janeiro, o economista Antonio Corrêa de Lacerda, professor da PUC-SP, também teceu críticas à forma como se dá o combate à corrupção promovido pela Lava Jato, com impactos desastrosos sobre a economia do país. “O combate à corrupção no Brasil se dá sem preservar o ativo, que é do país e não apenas do acionista, que é a empresa”, disse o professor.

Em texto publicado no site da Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros (Fisernge), o presidente da entidade, Clovis Francisco do Nascimento Filho, escreveu: “Em vez de apurar com rigor e responsabilizar as pessoas, a Operação está tomando pulso em torno da destruição das empresas brasileiras, das riquezas nacionais e da soberania do país. Obras paralisadas em todo o território nacional promovem demissões em massa, estagnação da economia e interrupção de projetos e serviços. Reivindicamos a apuração e a responsabilização dos casos de corrupção, mas não permitiremos que estes fatos abram uma avenida de oportunidades para uma política entreguista e de destruição da engenharia nacional”.