Ser trans no Brasil: como é que é? 

Você já se imaginou aprisionada ou aprisionado em um corpo que não corresponde ao seu gênero? Imagine você ser uma mulher presa em um corpo onde crescem muitos pelos do rosto até as pernas, sem seios, uma voz grave e traços bem másculos. Ou imagine ser um homem preso em um corpo onde os pelos não crescem, com seios fartos, uma voz suave e traços bem femininos. Nesta realidade, vivem as travestis, as mulheres trans e os homens trans de todo o Brasil.

Por Sílvia Cavalleire e Rodrigues Lima*

parada LGBT rio 2013 agência brasil

Todo 29 de janeiro, no Brasil, comemoramos o Dia da Visibilidade Trans, dedicado a todas as travestis e pessoas trans do país. Mas o que cada uma e cada um de nós quer comemorar são nossos direitos respeitados e garantidos!

Você já refletiu sobre as violências contra pessoas trans no dia a dia? Somos pessoas alegres e brincalhonas, que sempre divertimos o coletivo. Mas o inverso nem sempre acontece. Tem piadinha que é transfóbica, que machuca muito mais do que um soco no estômago.

Sermos tratadas no masculino, enquanto nos sentimos femininas, é tão doloroso quanto morrer a pauladas. Sermos tratados no feminino, enquanto nos sentimos masculinos, é tão horrível quanto ser estuprado.

Não ter o direito de usar o próprio nome que escolhemos é o mesmo que nos dizer: você não existe, porque você não é você, mas é outra pessoa! Isso é tão ruim quanto ser expulsa ou expulso de casa pela própria família. E a gente até tenta sobreviver só, não é?

Mas sem emprego, como é que faz? Ah, mas não tem emprego por quê? Porque não temos muita instrução nem qualificação profissional. E não tem por quê? Porque a escola também não nos aceitou, também contribuiu para nossa exclusão.

Mas mesmo com tantas negações, rejeições, expulsões, exclusões… Somos a turma da Esperança! Nunca deixamos de acreditar no amanhã! Somos aquelas e aqueles que ajudam a espalhar a beleza da vida: somos cabeleireiras, maquiadoras, determinamos as tendências da moda, somos homens que sentimos na pele o machismo e escolhemos ser homens feministas! Queremos ter família, casa, emprego, acesso à educação, à saúde e à justiça, para que reconheçam o nome que escolhemos para chamar de nosso. Assim, teremos mais orgulho das nossas identidades de gênero. Orgulho de ser quem somos! Orgulho de ser travesti… Orgulho de ser mulher trans… Orgulho de ser homem trans… Orgulho de ser ser humano!

A União Nacional LGBT deseja que neste ano que acabou de começar, tenhamos muitas lutas e muitas conquistas para celebrar até o 29 de janeiro do ano que vem! Que as travestis e as pessoas trans conquistem uma educação não-discriminatória, os mesmos direitos que casais heterossexuais e suas famílias, empregos com carteira assinada, ambulatório TT (para garantir o processo transexualizador do SUS) e a retificação do nome civil (mudança do nome civil para o nome social).

Isso sim é a verdadeira visibilidade trans!