The Wall Street: Doria coloca ativos de São Paulo a venda

O jornal diário The Wall Street Journal que mantém sede em Nova York, Estados Unidos publicou nesta sexta-feira (27) uma reportagem afirmando que o novo prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), está prestes a lançar um amplo plano de privatização que deve ser o maior do gênero já lançando por um município no Brasil.

Doria no The Wall Street Journal - Foto: Reprodução

O diário relata que Doria tem sido comparado com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump e que como Trump, ele é empresário e novato no meio político, e foi apresentador da versão brasileira do reality show “O Aprendiz”, estrelado na TV americana por Trump.

Na entrevista ao The Wall Street Journal, Doria contou que pretende privatizar de tudo, do Sambódromo do Anhembi aos cemitérios municipais. Ele espera com isso levantar mais de R$ 7 bilhões.

“O papel pesado do Estado é um dos problemas mais sérios do Brasil — ele é ineficiente e um convite à corrupção”, disse Doria, acrescentando que a profunda recessão do país torna a privatização ainda mais necessária.

“Este é o momento para fazermos isso, numa situação dessa, com uma crise desse tamanho”, disse ele, na terça-feira à noite, na sede da Prefeitura, ao fim do expediente que normalmente chega a uma jornada de 18 horas.

Doria, cuja fortuna de US$ 50 milhões veio em grande parte do império que construiu na área de eventos empresariais, tem adotado pragmatismo brutal que é seu estilo como executivo ao próprio governo. Ele eliminou a frota da prefeitura, composta de 1.300 veículos, e pediu à equipe que use o Uber. Qualquer funcionário do município que chegar atrasado às reuniões também tem que pagar uma multa de R$ 200 para cada 15 minutos de atraso.

“Todos riram de mim, mas agora estão todos obedecendo”, disse.

O prefeito de 59 anos vai dar a largada no seu plano de privatização com a venda do Anhembi e do autódromo de Interlagos. Ele espera que os negócios levantem cerca de R$ 7 bilhões, possivelmente, até o fim do ano.

Com a ajuda da McKinsey e de outras firmas de consultoria, ele planeja privatizar também a concessão de 107 parques, 22 cemitérios, o serviço funerário da cidade, o crematório, 16 mercados, 29 terminais de ônibus, o sistema de bilhetes para transporte público e o estádio de futebol do Pacaembu até 2018. 

Doria planeja viajar para o Oriente Médio, Coreia do Sul e Estados Unidos ao longo dos próximos meses para atrair o interesse de investidores, empresas e fundos soberanos.

“Modéstia à parte, eu sou bom para convencer as pessoas”, disse ele, dando uma longa lista de multinacionais que ele já convenceu a doar produtos e serviços para a cidade. A Unilever, por exemplo, está doando aos sem-teto do município sabonete e pasta de dentes. A Mitsubishi e a Honda estão doando veículos para vigilância. O tema mais controverso, porém, tem sido a tinta cinza que cobriu vários grafites da cidade nesta semana, gerando protestos.

Doria, que é casado com a artista plástica Bia Doria, com quem tem três filhos, disse estar preparado para a oposição ferrenha em um país onde o paternalismo ainda corre solto.

“Não será suficiente convencer o restante da prefeitura; haverá protestos, haverá pessoas nas ruas”, disse ele, em um tom desafiante que lembra o estilo de seu pai, João Agripino da Costa Doria Neto, deputado federal que se exilou em Paris durante a ditadura.

Doria, que frequentemente é visto em suéteres de cashmere, vestiu-se de gari no seu primeiro dia no governo, no que definiu como um gesto de humildade. Apesar do seu discurso contrário às instituições, ele rejeita comparações à Trump. “Eu não me identifico com ele”, disse. “Já Michael Bloomberg,— ele é um exemplo para mim.”