Polícia agride mulheres no jogo entre Corinthians e Juventus

Torcedoras corintianas e juventinas viveram, no domingo (22), mais um episódio do recrudescimento da repressão por parte da Polícia Militar, sintoma do crescente processo de criminalização das torcidas em São Paulo. 

Por Felipe Bianchi*

repressão a mulher no futebol

Segundo relatos de diversas mulheres, além da revista extremamente abusiva por parte dos soldados, a corporação apresentou uma ‘inovação’ na Arena Barueri, em confronto válido pela semifinal da Copa São Paulo de Futebol Júnior: foi proibida a entrada com bolsas, mesmo que pequenas e vazias.

Sem aviso prévio e incomum em jogos de futebol no estado, a medida resultou em uma cena surreal em frente aos portões de acesso à Arena Barueri: um varal de bolsas amarradas em uma grade, abandonadas à sorte. “O policial ainda disse que eles não se responsabilizariam e que dificilmente a bolsa estaria lá quando voltássemos”, afirma um dos relatos.

Além de descrever o episódio, os autores ainda questionam, em texto que circula no Whatsapp e em redes sociais, qual ameaça uma bolsa com documentos, celulares e materiais de higiene pode oferecer e por que a Federação Paulista de Futebol não informou que seria imposta a proibição. “Se proíbem a entrada de bolsas, deveriam ao menos oferecer um serviço de chapelaria. Não somos obrigados a chegar na porta do estádio e ter de abandonar nossos pertences”, complementam.

Confira alguns trechos de denúncias feitas sobre os abusos cometidos pela Polícia Militar em Barueri:

Michele Lemos, 25 anos

– Cheguei ao estádio por volta das 19h, para não correr o risco de entrar aos 20, 30 minutos ou até mesmo no segundo tempo de jogo, pois a moda é segurar os torcedores ao lado de fora, impedindo a entrada no estádio. Logo ao entrar no estádio segui até à revista, como de costume, onde me surpreendi com total falta de respeito e abuso, nunca fui revistada dessa forma em nenhum estádio que já fui , nem com o Corinthians mandante e nem como visitante. O modo da revista era por dentro das vestimentas, tais como seios, quadril , sovacos, punhos e isso tudo por dentro da camisa e por dentro da calça . Se passar por toda esta situação constrangedora já tinha me deixado indignada, imagina ao saber que CRIANÇAS de todas as idades, essas que tem tamanho risco pra sociedade , serem revistados de forma rigorosa como se fossem um risco ao entrar no estádio e por esse motivo teriam que ser bem revistadas.

Até quando a Polícia Militar vai tratar os torcedores, não só as organizadas , mas mulheres, família e crianças com tanta falta de respeito, como se fossem bandidos ou como se fossem lixos. A essência do Futebol está acabando, com ingressos caros, abuso de poder e repressão Policial?

Célia ( não informou a idade)

– Eu vou com uma bolsa mínima, só cabe o celular um documento e chave. Tive que voltar no carro e deixar q bolsa lá. Mas a maioria das pessoas vai de ônibus. É muita sacanagem com um torcedor que está pagando ingresso! A polícia passou dos limites há tempo: havia uma cavalaria enorme, caminhões de segurança máxima. Estamos vivendo em estado de exceção!

Cerco à festa, repressão ao povo

Os relatos do ocorrido em Barueri não são casos isolados, mas parecem formar parte de um cerco à festa popular no futebol paulista, além de ser mais uma peça no quebra-cabeça da repressão ao povo – ambulantes, grafiteiros, pichadores, negros, pobres, torcedores. O bloqueio policial nos entornos do estádio do Palmeiras, impondo um filtro ilegal sobre o direito de ir e vir em um espaço público (e que será aplicado, também, nos arredores do Morumbi em 2017) é um exemplo.

Em menos de um mês de ‘gestão’, o novo prefeito João Dória sinaliza que dará total respaldo à asfixia da cultura popular no futebol. Ao menos no que diz respeito à cidade, já ‘varreu’ ambulantes e trabalhadores informais, escondeu pessoas em situação de rua e declarou guerra às práticas de arte urbana. A Polícia Militar do também tucano Geraldo Alckmin, governador do estado, parece disposta a cumprir o papel de mão de ferro do projeto higienista que avança sobre São Paulo, nas ruas e nos estádios.