Penélope Toledo: O mercado da bola e a fabricação de notícias

É só abrir a janela de contratações, que começam as especulações. Embebidos/as de esperança, os/as torcedores/as vislumbram seus clubes recheados dos craques de primeira grandeza anunciados pelos jornais e programas esportivos. Mas quando o time se forma, a realidade é outra.

mercado do futebol

Além de acender e frustrar as expectativas da torcida, esta prática reforça a ideia de que clubes fortes são sinônimo de clubes com jogadores consagrados. Justamente quando transcorre a Copa São Paulo de Futebol Junior, a Copinha, que tradicionalmente revela grandes atletas que podem ser incorporados ao time principal, o que se estimula é o foco nos chamados “medalhões”, muitos dos quais, em final de carreira.

Da seleção do Campeonato Brasileiro de 2016, apenas o atacante Robinho, do Atlético-MG e o técnico Cuca, do campeão Palmeiras foram contratatos com status de ídolo. Os demais vieram de clubes pequenos, como o paulista Audax e o croata HNK Rijeka, respectivamente dos palmeirenses Tchê Tchê e Moisés, ou já pertenciam aos seus clubes. Jailson, por exemplo, começou a competição como terceiro goleiro.

O mercado da bola

Muitas transações anunciadas no mercado da bola são blefes, em parte, por causa dos empresários, que anseiam valorizar os seus jogadores. Uma espécie de leilão que faz parecer que o atleta está disputado e, valendo-se da lei da oferta e da procura (quanto mais demanda, maior o preço), eleva o valor do seu passe.

Segundo os dados referentes às transferências feitas no país em 2016, divulgados recentemente pela CBF, dos R$ 68,77 milhões movimentados nas transações “domésticas”, R$ 18,34 milhões ficaram com os empresários. A parte dos intermediários corresponde a cerca de 26%, um quarto do valor total.

Fora do Brasil a situação é semelhante. A revista Forbes informou que o português Jorge Mendes, agente de Cristiano Ronaldo, ganhou 950 milhões de dólares (848,5 milhões de euros) em transações ativas envolvendo jogadores. Ele também empresaria craques como James Rodríguez, parceiro de CR7 no Real Madrid, Di María (Paris Saint Germain) e Diego Costa (Chelsea).

A fabricação de notícias

Os blefes com relação às negociatas se dão também, em parte, por jogada dos meios de comunicação, que precisam vender notícias em uma época de escassez de acontecimentos. Muitos atletas que figuram como reforço de determinado clube recorrentemente informam que sequer foram sodados e/ou receberam proposta, ou seja, são notícias falsas.

A fabricação de notícias não é exclusividade do futebol. Em outros campos da sociedade, informações são distorcidas, forçadas, superdimensionadas e mesmo, omitidas no intuito de atingir determinados objetivos. Na política, isto é muito comum. É ilusão acreditar que os proprietários e editores dos grandes meios de comunicação não têm os seus próprios interesses no cenário político.
E se a mídia fabrica notícias no futebol para alcançar os seus próprios interesses, imaginem o que ela será capaz de fazer para alcançar os seus próprios interesses na sociedade…