"A Marcha das Mulheres em Washington foi redentora", diz brasileira 

A brasileira Marília Bezerra, que mora em Nova Iorque, participou com suas duas filhas da Marcha das Mulheres em Washington. A pedido do Portal Vermelho, Marília enviou um relato poucas horas depois do encerramento da manifestação. Segundo ela a marcha, que contou grande presença masculina, superou as expectativas e foi uma resposta poderosa das mulheres à postura machista e misógina de Donald Trump.  

Marcha das Mulheres EUA 2017 - Foto: Marilia Bezerra

A Marcha das Mulheres em Washington neste sábado (21) foi uma experiência linda, eu diria talvez até um pouco redentora. Sim, o Trump é presidente e representa uma grande parcela (mas não majoritária) da população (largamente branca) que se só move por seus medos, se ancora em numa visão do mundo imperialista, é machista, fundamentalista em questões religiosas, cega para ciência, desdenhosa da necessidade de cuidar do nosso planeta, e que para desesperadamente socorrer sua identidade corroída, se recusa a reconhecer a nossa humanidade compartilhada.

A sexta-feira (20) foi barra pesada aqui nos Estados Unidos. Mas aí veio hoje. Bom, ontem mesmo já dava pra sentir. Fosse pelas setes que me demorei para dirigir de New York para District Columbia (deveria ser quatro horas, mas imagina um trânsito louco na estrada a meia noite), ou pela levantada de espírito que nos deu em ver que todo mundo estava se preparando para ir para a rua. E olha…foi um sacrifício para chegar na rua. No meu caso sete horas dirigindo, depois acordar no outro dia e passar duas horas na fila para o metrô.

Mas saindo na parada do metrô na área da passeata já valeu o esforço. Foi como se levantado o véu nós todos pudéssemos nos ver de novo. E nos reconhecer fortes, poderosas! Chapeuzinhos de tricô rosa com orelhas de gato por todo lado fazia referencia a gravação do Trump vulgarmente se gabando de agarrar 'pussy' (a 'peluda') pela mão e o mote dos chapéus sendo 'pussy grabs back' ou, a peluda contra-ataca. E era peluda pra todo lado. Mulheres, garotas, homens em solidariedade. Todo mundo pronto pra resistência.

Era tanta gente que demorou duas horas para consegui cruzar o Washington Mall, um parque que tem uma área equivalente a uns três quarteirões, e conseguir nos juntar à multidão que tentava se espremer na avenida que tinha sido designada para a marcha. Inutilmente. Não havia jeito de tanta gente caber em uma, nem mesmo em duas avenidas. Todo o parque, todas a avenidas ao redor estavam empilhadas de gente.

Os polícias com que conversei me disseram que eles não esperavam tanta gente. E, com o fim oficial da marcha se aproximando mas sem o povo para de chegar, finalmente a polícia desistiu de conter a multidão em uma rota específica e liberou para deixar a multidão tomar conta.

A energia era pacífica, bem humorada mas forte, determinada. Nunca também me senti tão bem protegida pelos homens ao nosso redor…muitos, talvez 1/4 da multidão numa solidariedade palpável. Cantamos, batucamos, dançamos, nos exaurimos. Foi revigorante, foi um tônico. E minhas filhas de 13 e 15 anos que choraram um dia inteiro se sentindo desrespeitadas, atacadas e em perigo mesmo, no dia depois da eleição, reencontraram suas forças. Viram que não estão sozinhas e que elas têm todo o poder de virar o mundo de volta no seu eixo. Com a canção da Beyoncé elas saíram de lá convencidas e gritando: who rules the world? GIRLS!!!