Arruda Bastos: Gêmeos, os “Vizinhos De Útero”

“Meu artigo é uma homenagem a todos os pais que, com muito amor e carinho criam seus filhos, e a todos os irmãos que, apesar da concorrência e dificuldades da vida moderna, seguindo os ensinamentos cristãos, trilham os caminhos da paz, fraternidade, tolerância e união”.

Por *Arruda Bastos

Arruda Bastos: Gêmeos, os “Vizinhos De Útero”

A obra de Milton Hatoum, “Dois Irmãos”, adaptada para a televisão e em exibição no momento, trata de tumultuada relação de ódio entre irmãos gêmeos. Nela observamos a impressionante narrativa de uma desagregação familiar e rivalidade doentia entre irmãos. Além da genética, no caso encontramos também, não como álibi, a forma desproporcional da criação dos filhos em uma família desajustada e com graves problemas de amor entre pais e filhos.

Escrevo esse artigo para falar na antítese do tema do livro, para narrar não o desamor, mas sim o amor entre irmãos; não para tratar de uma criação patológica, e sim de uma alicerçada na compreensão, tolerância com as diferenças e carinho; em atitudes que formam e não deformam o caráter dos filhos e formatam cidadãos de bem para a nossa sociedade.

Para conceituar caráter, que acredito ser o mais importante adjetivo em um indivíduo, lembro que ele é um conjunto de características e traços relativos à maneira de agir e de reagir, um feitio moral, a firmeza e coerência de atitudes e um conjunto de qualidades e defeitos que determinam a conduta e moralidade do ser humano. As famílias têm uma imensa responsabilidade nessa formação.

Fiz essa introdução para chegar aos idos de 1955, quando na bela noite de 19 de janeiro nasceram os personagens principais da minha história: um belo casal de gêmeos. A menina nasceu com muita saúde e o menino nem tanto, pois, com baixo peso, necessitou de muita oração, dedicação de médicos, dos pais e até de uma ama de leite para sobreviver.

Os pais já tinham quatro filhas e almejavam ter um menino. Os mais velhos comentam como se fosse hoje o parto realizado pela parteira da família. Foi uma surpresa geral, uma vez que a mãe não sabia que se tratava de uma gestação gemelar. A primeira a nascer foi a menina, completando o casal de pais um quinteto de filhas.

O pai, é claro, ficou satisfeito com a filha, com o sucesso do parto e com os primeiros choros fortes da pimpolha. Entretanto, depois de alguns minutos, a parteira gritou alto e, para a surpresa geral, informou que tinha mais um rebento. A expectativa foi geral e os minutos se eternizaram até que um novo grito ecoou: “é um menino!”. Foi uma alegria geral.

Depois do parto dos gêmeos e o estresse vivido, os outros três filhos do casal nasceram em uma maternidade de Fortaleza, cidade onde os nove filhos foram criados com muito amor e carinho. Os irmãos aprenderam desde cedo com seus pais a importância da família e os ditames da fé cristã. Cada um desenvolveu seus dons pessoais, mas a fraternidade e a união permaneceram acima de tudo.

Mas e os gêmeos, protagonistas do meu artigo e que aniversariam em 19 de janeiro, tem algo de especial? Em conversa com seus irmãos mais velhos, ouvi a informação que o rapaz, quando era muito pequeno, tinha como hoje uma ligação muito próxima com a irmã e até em algumas oportunidades utilizava suas fraldas e outras roupinhas. Fato que não influenciou em sua opção sexual.

No quesito de um sentir o mesmo que o outro, acredito ser verdade, pois os “vizinhos de útero” vira e mexe têm sonhos premonitórios e sentem quando alguma coisa acontece com o seu irmão. Alguns contam que já tiveram essa experiência mística. Não sei se a ciência, em algum momento, chegará a ter clareza sobre isso, mas que os gêmeos, normalmente, têm uma conexão muito forte é uma verdade.

Nossos personagens cresceram com muito carinho dos pais, dos irmãos e de toda a família. No dia 19 de janeiro eles comemoram mais um aniversário. Saltando várias décadas no tempo, encontramos hoje os gêmeos plenamente realizados com suas belas famílias e já com netos. É a comprovação fática que só o amor constrói os fundamentos para a formação do caráter e o crescimento físico e espiritual.

Poderia, no final do meu artigo, dizer que “esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência”. Entretanto, não me contendo, digo que o texto é da vida real, os personagens principais são minha linda irmã gêmea Noemi e o belo varão sou eu, o irmão apaixonado por ela e por toda a sua família. Parabéns por mais um 19 de janeiro.

Meu artigo também é uma homenagem a todos os pais que, com muito amor e carinho criam seus filhos, e a todos os irmãos que, apesar da concorrência e dificuldades da vida moderna, seguindo os ensinamentos cristãos, trilham os caminhos da paz, fraternidade, tolerância e união.


*Arruda Bastos é médico, professor universitário, escritor, radialista, ex-Secretário da Saúde do Estado do Ceará, um dos coordenadores do Movimento Médicos pela Democracia e um apaixonado pela família.

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