De Paris, um voto a favor da paz entre Israel e Palestina

Representantes de boa parte da comunidade internacional reuniram-se em Paris para impulsionar as negociações de paz entre Israel e Palestina, um esforço que pode cair no vazio por falta de vontade de uma das partes.

Por Luisa María González, na Prensa Latina

Netanyahu - Reuters

A conferência internacional, organizada pela França, conseguiu aglutinar delegados de 70 países e organizações como a ONU, a União Europeia e a Liga Árabe, sob a premissa de que a paz no Oriente Médio só pode ser alcançada se conseguir resolver esse velho conflito.

'Não é possível conseguir a paz no Oriente Médio se não for solucionado o conflito mais antigo da região', alertou o presidente anfitrião, François Hollande, em um chamado a não esquecer a questão de Israel e Palestina quando outras guerras chamam a atenção do mundo, como as da Síria e do Iraque.

Em relação à reunião efetuada no dia 15 de janeiro em Paris, o presidente palestino, Mahmud Abas, manteve uma atitude de otimismo e manifestou seu desejo de que o fórum ajude a impulsionar as negociações com vistas a conseguir a paz.

O chefe de Estado cumprimentou os resultados da conferência e destacou que com eles 'se reafirmam os princípios do direito e as resoluções internacionais'.

No entanto, da parte de Israel a atitude foi diferente, e o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu criticou a reunião ao considerá-la inútil e assinalar que seu país não se sentiria aludido pelas conclusões.

O governante chegou a qualificar a reunião como 'uma fraude' e uma manipulação dirigida a promover iniciativas anti-israelenses.

Tal postura ameaça em jogar por terra os esforços realizados para promover o fim de um conflito de mais de meio século, porque tal como se reconheceu na reunião de Paris, negociar a paz só corresponde às duas partes envolvidas e ninguém pode fazer isso em seu lugar.

Frente às críticas emitidas por Netanyahu, Hollande esclareceu que a intenção da iniciativa francesa não é dizer às partes o que devem fazer, mas contribuir para o processo de diálogo e criar uma base favorável neste sentido.

Por sua vez, o ministro de Assuntos Exteriores da França, Jean-Marc Ayrault, assinalou que o encontro foi a reunião da 'mão estendida' e da 'esperança', depois de ratificar a disposição de Paris e dos países presentes para contribuir com o processo de paz.

'Reunimo-nos para ajudar em uma solução construtiva, de boa fé', afirmou.

O ministro indicou que a conferência foi organizada e realizada em total transparência com as duas partes, e se declarou disposto a viajar ao Oriente Médio para expor pessoalmente o resultado dos trabalhos.

Ayrault ratificou a postura de que só o caminho do diálogo pode levar a uma solução durável. 'A via da diplomacia e da negociação às vezes demora, leva tempo, mas é a única válida para solucionar o conflito', estimou em coletiva de imprensa, na qual reiterou a condenação unânime à toda incitação à violência.

A reunião aprovou uma declaração final na qual chamaram as partes a reafirmar seu compromisso a favor de uma solução dialogada e adotar as medidas urgentes com o fim de reverter a evolução negativa atual na região.

A conferência internacional de Paris foi o resultado de vários meses de trabalho do Ministério francês de Assuntos Exteriores, que realizou uma reunião prévia no dia 3 de junho de 2016, como preparação dos trabalhos.

Durante todo o processo foi defendido que resolver o conflito entre Israel e Palestina passa pelo estabelecimento de dois Estados, como única via para alcançar a paz.

A esse respeito, Hollande indicou que o propósito é promover 'o apoio da comunidade internacional a uma solução, que não pode ser outra que o estabelecimento de dois Estados'.

De acordo com o presidente francês, nos últimos anos essa opção viu-se ameaçada e uma das evidências mais significativas é a aceleração da colonização de territórios palestinos por parte de Israel.

Diante desse processo considerado muito negativo, a reunião estimou necessário privilegiar a alternativa dos dois Estados, com base nas resoluções das Nações Unidas e nas fronteiras de 1967, antes de Israel começar a ocupação dos territórios palestinos.

Em sua mensagem após a reunião, Abas elogiou especificamente o respaldo dado a essa solução, que implica a criação de um Estado palestino com capital em Jerusalém leste.