Redução da Selic é medida pela permanência de Temer, diz economista

O processo de desinflação difundido e a falta de atividade econômica foram os argumentos do Banco Central para a redução de 0,75 ponto percentual na taxa básica de juros, a Selic, na última quarta (11). Mas, para o economista Guilherme Mello, professor do Instituto de Economia da Unicamp e pesquisador do Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica, a redução foi uma medida política tomada pelo Governo Federal para garantir a permanência de Temer na presidência.

Marcos Oliveira/Agência Senado

“Antes mesmo dessa redução ser anunciada, eu já acreditava que ela viria. A queda da Selic reflete uma péssima noticia: a redução da taxa de juros só foi possível porque estamos em uma profunda recessão que se agravou nos últimos meses. A expectativa era de que chegaríamos no final do ano 2016 com uma recuperação econômica, e não aconteceu isso. Essa medida está trabalhando uma discussão muito mais política do que necessariamente econômica. A diminuição de 0,75 veio não só porque estamos em recessão, mas porque se chegou em um consenso no debate econômico e político de que não havia outra saída. A recessão não vai ser superada meramente pelo discurso de que as reformas estão sendo feitas e que a confiança vai voltar. Essa estratégia não deu certo e o governo se vê cada vez mais fragilizado”, afirma Guilherme.

Em conversa com a Brasileiros, o economista ressaltou que esse governo é alvo de investigações, acusações, várias gafes do presidente e dos ministros e que a a situação econômica só se deteriora. “Era inviável o governo manter a taxa de juros elevado do ponto de vista financeiro. Se ele falasse que iria reduzir menos, era óbvio que empresários e parte do setor financeiro ficariam extremamente apreensivos com o futuro do Brasil. Então a decisão foi política e não técnica.”

“O Banco Central só fez essa redução porque avaliou que, se não a fizesse, o governo provavelmente cairia no meio do ano. O governo de Temer não conseguiria se sustentar com a enxurrada de gafes, de projetos antipopulares que está financiando e com a economia que não só patina, como afunda”, afirma. “Eles precisavam dar alguma esperança para seus próprios apoiadores que estão no mercado financeiro e empresarial. As razões para o otimismo econômico começaram a ficar muito escassas, então usaram a última desculpa que poderiam usar, como se fazendo isso fossem reduzir os problemas do Brasil.”

O economista sustenta que a medida foi tomada mais pela falta de opções do governo do que, necessariamente, pelo sucesso na estratégia do Bando Central, como vem sendo noticiado. Isso porque os argumentos usados para creditar a redução sempre existiram e só foram usados agora porque a chance do governo naufragar não são poucas.

Para a população geral, Guilherme acredita que a redução terá um pequeno impacto diante da taxas de juros praticadas no país, como a de alguns cartões de créditos que chegam a 280%. Os benefícios ao trabalhador serão pequenos e indiretos. No caso das empresas, o impacto será mais um custo de oportunidade do que um nível de investimento. Mas a tendência continuará sendo a redução da Selic.

“Qualquer um que falar agora sobre os desdobramentos dessa redução e do que virá estará chutando. Não há parâmetros para a gente falar algo diante de uma economia que já está há dois anos em uma profunda recessão e com um número grande de desempregos. Além disso, as incertezas políticas do país e do mundo impedem as previsões de que a redução da taxa de juros cause isso ou aquilo no câmbio e garanta sobrevida ao governo. Tudo vai depender de varias incógnitas, como as eleições na França e o governo do Trump, ou seja, incógnitas políticas que não estão no controle nem do governo nem do Banco Central”, conclui.