A política externa norte-americana e seus teóricos

Para o historiador marxista Perry Anderson, os EUA já não contam com a hegemonia absoluta que vivenciaram após o fim da URSS, mas continuam a predominar graças ao controle da economia, que mantêm, e às novas armas de alta tecnologia que estão desenvolvendo. Com a eleição de Donald Trump para a presidência dos EUA, este livro se torna ainda mais atual.

Por Carlos Azevedo*

Perry Anderson

A política externa norte-americana e seus teóricos acompanha em detalhe os grandes e também os pequenos movimentos, as posturas públicas e as ações secretas dos EUA no relacionamento com as demais nações. Retrata desde o início a vocação expansionista e imperialista do país e sua transformação na superpotência que se mantém hegemônica até nossos dias. Nada escapa ao olhar atento de Perry Anderson, como o fato de que, apesar das divergências internas entre democratas e republicanos na política doméstica, a marca principal da política externa americana é essencialmente de continuidade.

Anderson começa por demarcar quatro pontos definidores da pré-história do império dos EUA:

1. economia de colonização livre de quaisquer resíduos ou impedimentos feudais do Velho Mundo;
2. território continental estrategicamente protegido de ataques inimigos por dois oceanos, produzindo a forma mais pura de capitalismo nascente no maior Estado-nação da Terra;
3. a ideia, originária da colonização puritana inicial, de uma nação que goza de privilégio divino, imbuída de uma vocação sagrada;
4. a crença, originada da Guerra da Independência, de que uma república dotada de uma Constituição de liberdade eterna havia surgido no Novo Mundo.

Os EUA foram um caso único entre as nações e simultaneamente uma estrela-guia para o mundo. Uma organização historicamente sem precedentes, que ao mesmo tempo serve de exemplo convincente às outras. Essas eram as convicções dos “pais fundadores” da nação. Eles previram um esplendor territorial, como o então presidente Thomas Jefferson (1801-1809) disse ao futuro presidente James Monroe (1817-1825), em 1801: “Por mais que nossos interesses presentes possam nos restringir aos nossos limites, é impossível não olhar para a frente, para tempos longínquos, em que nossa multiplicação os expandirá além desses limites, cobrirá todo o continente Norte, e talvez o continente Sul, com pessoas falando a mesma língua, governadas de forma similar e por meio de leis semelhantes”.

Direito manifesto 

Por volta da metade do século XIX, surge o famoso slogan “o direito a nosso destino manifesto de cobrir e possuir o continente por inteiro, direito que a Providência nos deu para o grande experimento da liberdade e do autogoverno federado” (axioma expressado pelos “fundadores” e cunhado em 1845 num artigo do jornalista, John O’Sullivan) . Ele continua: pois uma terra “vigorosa e recém-saída das mãos de Deus” tinha uma “missão abençoada para com as nações do mundo” Logo em seguida aconteceu a anexação de metade da superfície do México.

Em 1910, os EUA já apresentavam uma magnitude industrial maior que a da Alemanha e da Inglaterra juntas. Na esteira do livro A influência do poder naval na História, de Alfredo Mahan, o poder da Marinha é estimulado. Mahan defendia um espírito marcial e de um poder naval robusto: a paz era apenas a “divindade tutelar do mercado de ações”. Tanto Theodore Roosevelt (1901-09) como Franklin Roosevelt (1933-45) valorizariam o poder naval. Na mesma época, outro intelectual, Brook Adams, escreveu A supremacia econômica dos EUA, defendendo que os grandes interesses do país “cobrirão o Pacífico, o qual eles controlarão como um mar interior”.

O presidente Woodrow Wilson (1912-21) deu ares messiânicos à presunção do repertório imperial. Na campanha eleitoral de 1912 ele disse: “Eu acredito na Providência. Eu acredito que Deus presidiu a criação desta nação. Eu acredito que ele plantou nos EUA as visões da liberdade. (…) Somos escolhidos, e escolhidos de forma proeminente, para mostrar às nações do mundo como elas deverão andar no caminho da liberdade”. Brandindo esses argumentos, Wilson lançou gratuitamente os EUA na I Guerra Mundial, opina o autor. Sua proposta de ordem mundial após a guerra distinguia-se por seu apelo a uma “porta aberta” global (liberação das barreiras comerciais) ao mesmo tempo que o país mantinha seu próprio mercado protegido por tarifas elevadas.

Para Nicholas Spykman, em um livro, segundo Anderson, “notável” (A estratégia dos EUA na política mundial), a democracia liberal havia se tornado um mito obsoleto: o laissez-faire levava a um crescente monopólio e à concentração do poder econômico; o livre-comércio era uma ficção ridicularizada pelos subsídios estatais em casa; a luta de classes, declarada como inexistente, fora resolvida com bombas de gás lacrimogênio e violência; no exterior, baionetas americanas ensinaram contabilidade moderna a raças inferiores.

A crise de 1929 e a Segunda Guerra Mundial 

Uma década depois, a Grande Depressão foi sinal de que a pré-história do império americano estava no fim. Sua indústria e sua agricultura estavam relativamente isoladas do comércio mundial, mas os depósitos bancários não estavam desligados do mercado financeiro internacional.

A aliança com Reino Unido e URSS, que permitiu a vitória na II Guerra Mundial, teve como fundo estratégico os cálculos do capital. Os planejadores de Franklin Roosevelt tinham duas prioridades: o mundo deveria se tornar um lugar seguro para o capitalismo em geral; e dentro do mundo do capitalismo os EUA deveriam reinar supremos. Sem uma liberação do comércio em todas as direções, o próprio sistema de livre iniciativa dos EUA estaria em risco. Dean Acheson, secretário de Estado de Roosevelt, declarou no Congresso em 1944: “não podemos ter pleno emprego e prosperidade nos EUA sem os mercados externos”.

De 1943 em diante, conforme a vitória na guerra se aproximava, a preocupação dos EUA era impedir que os britânicos mantivessem a “preferência imperial” – isto é, relações comerciais privilegiadas com suas colônias e ex-colônias –, conter os movimentos de esquerda que promoveram a resistência na Europa e, principalmente, enfrentar a ameaça que a URSS representava. Ela era a negação do capitalismo, tencionava sua derrocada. O comunismo era um inimigo mais radical do que o fascismo.

As circunstâncias criadas pela II Guerra, os exorbitantes lucros obtidos pelos capitais americanos com o conflito, clamavam por ampliação. Foi o verdadeiro advento do imperialismo EUA, segundo historiadores e intelectuais nascidos lá, como Franz Schurmann (autor de Logic of world power, Lógica do poder mundial), Nicholas Spykman (America’s strategy in world politics, Estratégia da América na política mundial), Gabriel Kolko (The politics of war, A política da guerra). “O que Roosevelt sentiu e ao que deu expressão visionária foi que o mundo estava maduro para um dos experimentos mais radicais da história: a unificação de todo o mundo sob uma dominação centrada nos EUA”, escreveu Schurmann.

Em 1945, com seu território intocado pela guerra, os EUA tinham uma economia três vezes maior que a da URSS e cinco vezes maior que a do Reino Unido, controlavam metade da produção industrial do mundo e três quartos de suas reservas de ouro. A paz deveria refletir essa predominância. Na conferência de Bretton Woods, berço do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI), o Reino Unido teve de renunciar à política da preferência imperial e o dólar tornou-se o mestre do sistema monetário internacional.

A Guerra Fria

Para o sucessor de Roosevelt, Harry Truman (1945-53), opor-se à ameaça soviética era mais urgente que o ajuste da paz. Quatro dias após a rendição da Alemanha, Truman cancelou o acordo militar com os soviéticos, sem aviso prévio. As armas nucleares usadas no Japão mostravam do que os EUA eram capazes. Começava a Guerra Fria. Ideologicamente, dois universalismos se engalfinhavam.

“Enquanto a União Soviética, representando (assim alegava) a penúltima etapa da história, estava presa em uma luta dialética pela libertação final da humanidade, os EUA são a própria libertação. É o fim, é já um império mundial, não pode ter um igual, um Outro dialético”, escreveu Anders Stephanson em Kenan: realism as desire (Kennan: realismo como desejo).

George Kennan, cientista político e diplomata, com seus escritos e sua atuação inspirou a “Doutrina Truman” que se autointitulava de “contenção” para a segurança, mas cujo objetivo real era eliminar a URSS. Afirmou que “a liquidação [da URSS] é a verdade da Guerra Fria”. Defendeu o uso de armas nucleares numa guerra preventiva contra a URSS: “com prováveis dez acertos com bombas atômicas (…) você poderia praticamente incapacitar o potencial russo de fazer guerra”.

Kennan, que comandou a política de reconstrução do Japão no pós-guerra e era fã de Antonio Salazar (ditador português), achava que a democracia era um “fetiche”, seria preciso uma “mudança constitucional para um Estado autoritário”. Acheson, o secretário de Estado de Roosevelt, dizia: “eu não acho que ela [a democracia] valha um centavo”. Para ele, o Congresso era “representativo demais…” Mas em público a democracia era apresentada como um valor proeminente na missão americana para o mundo. O destino manifesto e a religião também continuavam a compor o discurso oficial.

A nação escolhida por Deus

Desde então a divindade continua a guiar os EUA, conforme as manifestações dos presidentes republicanos Dwight Eisenhower (1953-61) – “Em Deus confiamos” – e George Bush (2001-09), o filho – “Nossa nação foi escolhida por Deus e comissionada pela história para ser um modelo para o mundo”. E conforme o democrata Barack Obama – “Deus continua a chamar os americanos para seu destino: levar, com Sua graça, a grande dádiva da liberdade para a posteridade”.

A Guerra Fria, embora demorada, foi apenas um subenredo dentro da história maior de dominação global dos EUA, observa Thomas McCormick, em America’s half century (Meio século de América), que faz parte de uma tradição de estudos sobre o imperialismo americano fundada por William Appleman Williams nos anos 1950 (seus vários livros são citados no texto). O relato de Williams sobre um imperialismo americano de longa data, produzido antes dos bombardeios ao Vietnã do Norte, ressoou com força profética nos anos 1960. E outros historiadores continuaram seus estudos irradiando e documentando suas teses.

O historiador John Lewis Gaddis, que durante quatro décadas defendeu as posições oficialistas, liderou a reação. Dizia que se havia algum imperialismo, era um império por convite, livremente procurado pela Europa.

A participação na II Guerra Mundial rendeu um bônus duplo aos EUA – a economia cresceu tanto que seu PIB dobrou entre 1938 e 1945 enquanto seu três principais rivais industriais (Alemanha, Reino Unido e Japão) estavam destruídos ou enfraquecidos. Washington podia modelar o universo do capital segundo suas exigências.

A supremacia militar

“A pedra angular do mundo”, segundo Acheson, era manter sob controle americano as duas outras regiões industriais mais importantes, a Europa e o Japão. Era preciso impedir o avanço da influência da URSS nessas regiões. Para isso, usariam todos os meios. Um episódio crucial da guerra ficou conhecido por demonstrar a insensibilidade americana: Truman recebeu a notícia sobre a explosão da bomba atômica em Hiroshima a bordo do encouraçado Augusta, correu pelo convés com a expressão “é a coisa mais importante da história”, em clima de euforia, aplaudido pela tripulação e comitiva, todos sem remorso, indiferentes às 80 mil mortes, aos milhares de feridos e aos que ainda morreriam pela radiação (conforme Arnold A. Ofner em Another such victory).

A euforia se explicava também pela vantagem de os EUA serem os únicos detentores da arma nuclear. Que só durou até 1949, quando os soviéticos fizeram sua primeira experiência nuclear. Os americanos responderam com a bomba de hidrogênio em 1952. A URSS replicou em 1953. Mas os EUA ainda estavam muito à frente. Nos anos 1970, tinham o triplo das ogivas que o inimigo. E não só isso. Eram uma potência marítima, presente do mar da China Oriental ao Mediterrâneo, do Oceano Atlântico até o Golfo Pérsico, com porta-aviões e submarinos nucleares em número cinco vezes maior que os da URSS. Em 1946 já tinham 170 aeródromos espalhados pelo exterior. Em meados de 1960 controlavam 375 bases de grande porte e 3 mil instalações menores em todo o mundo. Cercava o bloco soviético por todos os lados. A URSS era uma potência regional enfrentando uma potência global.

Jogando a URSS contra a China

Na década de 1970 ocorreram mudanças dramáticas. A reconstrução da Europa Ocidental e do Japão fora um sucesso retumbante. Tão bom que eles se tornaram concorrentes dos EUA, aproveitando sua tecnologia e oferecendo salários mais baixos. A taxa de lucro das empresas americanas caiu drasticamente e o país começou apresentar déficits comerciais crescentes. Grandes gastos com reformas internas e com a Guerra do Vietnã, provocaram aumento da inflação e deterioração da balança de pagamentos. A França de Charles De Gaulle atacava o dólar comprando ouro. A URSS e a China se apresentavam como ameaças. Pela primeira vez o mandato do Estado imperial estava sob pressão.

O presidente Richard Nixon (1969-74) agiu rápido: arbitrariamente impôs o rompimento do acordo de Bretton Woods, liberando o dólar da paridade com o ouro. E, aproveitando as divergências entre China e URSS, promoveu aliança com a China e em seguida um acordo com a URSS, jogando um contra o outro e passando a ser cortejado pelos dois. Mesmo assim, não conseguiu evitar a derrota no Vietnã. Compensou com o golpe militar no Chile, de Salvador Allende, e com a vitória de Israel, que acabou com o nacionalismo de Abdel Nasser no Egito. Tudo isso em poucos meses.

Jimmy Carter (1971-75), completou a obra de Nixon, seu antecessor: estabeleceu plenas relações com a China e promoveu o acordo Israel-Egito que consolidou o domínio americano sobre o Oriente Médio, apesar da surpresa com a revolução islamita no Irã.

O fim da URSS e a hegemonia completa

A derrota da URSS no Afeganistão precipitou sua crise interna que levaria ao desmantelamento em 1991. Era o fim da Guerra Fria, o encerramento de uma época. A hora da construção de uma ordem internacional liberal com os EUA no comando havia chegado. Os EUA não perderam tempo em estender o alcance da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) até as fronteiras da Rússia. O presidente George Bush (1989-93), o pai, promoveu a vitoriosa Guerra do Golfo contra o Iraque, sob o mandato da Organização das Nações Unidas (ONU). Conseguiu que a maior parte dos países firmasse o Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP), criando assim uma oligarquia formada pelos países detentores de armas nucleares da qual só Israel foi deixado de fora.

Seu sucessor, o democrata Bill Clinton (1993-2001), seguiu-lhe os passos, tendo como prioridade desenvolver a ordem liberal de livre-comércio como um abrangente sistema global. Criou o Tratado norte-americano de livre comércio (Nafta) com México e Canadá e transformou o Tratado geral de comércio (Gatt) na Organização Mundial do Comércio (OMC).

A hegemonia completa se manifestou na Guerra dos Bálcãs. A Otan passou de defensiva a ofensiva, promovendo o desmanche da Iugoslávia. Novos equipamentos militares de grande precisão nos bombardeios foram testados na região, resultando que não ocorreu nenhuma baixa de soldado dos EUA nessas ações. O ataque foi legitimado em nome dos direitos humanos, a nova palavra de ordem que justifica toda intervenção em qualquer parte.

Torres gêmeas, sinal de declínio?

O atentado às Torres Gêmeas e ao Pentágono, em 11 de setembro de 2001, o primeiro ataque na história ao território continental americano, mudou drasticamente o cenário criando um clima de perplexidade e insegurança, apesar da pequenez da Al Al-Qaeda diante de tal colosso. Mas o simbolismo era forte. De novo, dois universalismos se defrontavam – o dos EUA e o do movimento islâmico. As guerras não resolvidas no Afeganistão e no Iraque, e a continuidade do conflito entre Israel e Palestina, deram impulso a um período de convulsões no Oriente Médio. A China promoveu um desenvolvimento econômico fulminante, tornando-se um gigante industrial, comercial, financeiro e ampliando sua força militar. A Rússia se revigorando, outros países como Índia e Brasil adquirindo musculatura. Praticamente em toda parte grandes tendências geopolíticas estavam se movendo, pondo em questão a hegemonia dos EUA.

Estaria o império americano em declínio? O debate se inflama na intelectualidade americana. Em 2007, Zibgniew Brzezinski, ex-conselheiro de Segurança Nacional de Carter, disse: “Quinze anos depois de sua coroação como líder global, a América está se tornando uma democracia amedrontada e solitária em um mundo politicamente antagônico”. Para ele, a sociedade americana estava marcada por elevados índices de endividamento, déficits comerciais, baixos níveis de poupança e investimento, crescimento lento da produtividade, sistema de saúde inadequado, ensino secundário inferior, infraestrutura em deterioração, ricos gananciosos e pobres sem teto, racismo e crime, e por aí seguia.

Ao mesmo tempo, os EUA eram uma força desestabilizadora em todos os lugares menos desenvolvidos do mundo. E na maior parte da Terra, ainda pobre, os distúrbios estavam à espera. Guerras regionais, hostilidades econômicas, convulsões sociais, conflitos étnicos. Porém, apesar de todos os seus defeitos, os EUA continuavam a desfrutar de uma superioridade absoluta em todas as dimensões de poder – militar, econômica, tecnológica, cultural. Para Robert Kagan, outro ex-funcionário do governo, os EUA não estão em declínio e são a única garantia de paz no mundo. O presidente Obama apreciou tanto os argumentos de Kagan em um artigo intitulado The mith of american decline (O mito do declínio americano), que o citou em seu discurso do Estado da União de 2012, no qual proclamou que “a América está de volta”. Kagan agradeceu elogiando Obama pela instalação de mais uma base militar, agora na Austrália. Ele também poderia ter lembrado que o Comando da África, criado apenas em 2007, já instalou efetivos militares americanos em 49 dos 55 países do continente, segundo levantamento do historiador Nick Turse.

Para Anderson, esse cenário, da surpreendente acumulação de bases militares ao redor do mundo, do domínio do Oriente Médio pelos EUA, da simbiose com Israel, é indicação de que tudo o que levou o país ao 11 de Setembro continua em vigor. Num posfácio o autor faz uma atualização dos problemas com que o império se depara: aos levantes que se mantém no Iraque e no Afeganistão juntaram-se a dissolução da Líbia, transformada num caos, a guerra civil na Síria, onde não tem como apoiar os inimigos de Bashar al-Assad porque são islamitas fundamentalistas, a irrupção vitoriosa do Estado Islâmico, enquanto há um lampejo positivo nas negociações sobre o acordo nuclear com o Irã.

Na Europa, o conflito na Ucrânia, a Rússia tentando impedir um novo avanço da Otan, com o governo ucraniano recebendo assistência não oficial americana de um lado e tropas russas não assumidas atacando, de outro.

Novas armas, vantagem inquestionável 

O cenário mais geral indica que no plano econômico, para o capitalismo global como um todo, ainda não há saída da crise, pois continua o excesso de capacidade produtiva em relação a uma fraca demanda. Mas o complexo Tesouro-Wall Street continua a controlar as alavancas diplomáticas e monetárias. Porém, sem ser muito percebido, é no terreno militar que ocorre uma melhoria dramática na variedade e precisão do seu arsenal nuclear. Os EUA recuperaram a superioridade estratégica absoluta em armas de destruição em massa de que desfrutaram logo após a II Guerra Mundial. Obama lançou uma onda de revitalização atômica com planos para uma nova geração de portadores de armas nucleares a um custo de 1 trilhão de dólares. Com a erosão do arsenal nuclear russo e as imensas limitações dos chineses, os EUA não estão longe de uma capacidade de primeiro ataque que poderia acabar com as duas potências sem temer uma retaliação. Se tal cenário permanece além da imaginação, ele continua a figurar nos cálculos daquilo que foi chamado um dia de dissuasão. Demonstração de que o TNP(Tratado de Não Proliferação Nuclear) só serve para os outros.


A política externa americana e seus teóricos
Autor Perry Anderson
Editora Boitempo
Páginas 224
Ano 2015

(Resenha publicada originalmente por Retrato do Brasil em 2016).