Guadalupe Carniel: El potrero y la pelota (no) se manchan?

Maradona já nos alertou há tempos: lá nos idos dos anos 90 ele criticou ferozmente a FIFA e muitos diziam: "ah, é opinião de um jogador em franca decadência". O tempo passou e nos mostrou que algumas coisas ditas naquela época estavam certas, como a questão do "El potrero y la pelota no se manchan".


Fifa

 Afinal, é isso que nos faz continuar seguindo o esporte com entusiamo, independente das questões que aconteçam extracampo, estamos lá, porque ainda acreditamos que o que acontece dentro de campo é mágico.

Mas tem coisas que não dá pra entender e apoiar, como uma Copa do Mundo com 48 seleções com a desculpa de que isso trará desenvolvimento para o esporte (mera coincidência com o discurso da Conmebol a respeito da Libertadores e Sul-Americana?!).

Terça-feira (10) foi dia de reunião da FIFA para oficializar o que todos já sabíamos: que a Copa do Mundo a partir de 2026 deixa de ter o atual formato com 32 seleções e passa a ter 48. O torneio, ao que parece, será composto por 16 grupos com três seleções cada, onde duas passariam de fase para o mata-mata e o certame seria disputado no mesmo número de dias que as atuais edições: 32. Ou seja, a primeira fase contaria com quatro jogos por dia e um tempo ridículo de descanso para as equipes que se classificassem.

Segundo Infantino, presidente da FIFA, a decisão é puramente futebolística e não econômica, já que alegam que aumentaria a qualidade das equipes participantes. Mas na página sete do relatório divulgado, a entidade terá um lucro de 975 milhões de dólares, ou seja, 640 milhões a mais. O que pode ser visto como algo bom, já que pode contemplar países que estão em desenvolvimento no esporte, na realidade pode servir para atender a interesses políticos, visto que na realidade, teriam três vagas a mais para os europeus (16), quatro para africanos (9,5), quatro para asiáticos (8,5), os da Concacaf duas (6,5) e uma para os sul-americanos, indo para 6,5. E a Oceania mantendo uma vaga. Os números quebrados indicam repescagem, por isso o meio por quantidade de vagas.

O discurso de Infantino de que é apenas interesse pelo desenvolvimento e democratização do esporte está claro que é apenas para "inglês ver". Na realidade, a ideia é inflar e ganhar cada vez mais. Infantino foi quem ajudou a implementar um aumento no número de vagas na Eurocopa para quem não se lembra. Essa proposta não é nova e claro, a ideia é fazer com que os eleitores da FIFA (leia-se dirigentes) tenham seus interesses atendidos, numa via de mão dupla para manter a presidência da entidade. João Havelange, Blatter e Platini sempre foram a favor, o francês defendia 40 seleções por exemplo, no torneio. Os três que foram presidentes antes de Infantino tiveram sérios problemas e denúncias de gestões desleais e conflitos de interesses.

Se realmente a ideia fosse defender a democratização e desenvolvimento em outros lugares que não só na Europa e América do Sul, a FIFA tá fazendo errado: por que ao invés de criarem mega torneios, como Sul-Americana de seis meses, Libertadores de 10 e uma Copa com 48 seleções, não investem nos campeonatos locais e na base? Inflar com números e equipes mas não investir em qualidade e desenvolvimento não faz sentido se quisermos ter competições mais interessantes. Caso contrário, tudo se torna um mega Mundial de Clubes (que também deve aumentar para 16 equipes, mas ainda não foram explicadas como as vagas seriam distribuídas) onde todos simplesmente esperam a final que invariavelmente é disputada entre sul-americanos e europeus e que contraria a lógica do futebol: que é não ter lógica alguma.