"Redução da Selic não sinaliza saída da recessão", diz Adilson Araújo

 Uma redução que pouco influenciará na conjuntura e que não mudará o cenário de crise que o Brasil vive hoje”, avaliou o presidente da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Adilson Araújo, ao comentar a redução da taxa de juros Selic anunciada nesta quarta-feira (11) pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC). De acordo com a nota, o Copom reduziu a taxa de juros de 13,75% para 13%. Mesmo com o corte, o país segue líder mundial de juros.

Adilson Araújo, CTB - CTB

Segundo ele, a redução “é insuficiente para destravar a economia. Se o BC diz que a inflação era o principal motivo para a alta dos juros é de se estranhar que os juros não caiam na mesma proporção da inflação”. E completou: “Mesmo com a inflação em queda, os juros reais ainda são os mais altos do mundo. Não haverá alívio".

Dados de taxa de juros nominal em relação à expectativa de inflação, coletados no IPEAdata, para o período de 2010 a 2016, comprovam uma relação desapartada entre os juros e a inflação.

“Para enfrentar a crise fiscal é preciso reduzir substancialmente a taxa de juros, reestruturar a dívida pública, combater a sonegação e realizar uma reforma tributária progressista que desonere o trabalho e tribute mais o capital financeiro, aumente o imposto sobre heranças, os lucros (sobretudo os obtidos com a especulação financeira) e taxe as remessas de lucros e dividendos ao exterior”, afirma o dirigente.

Araújo lembra que a crise, aqui como em todo o mundo, é uma produção do capitalismo e dos capitalistas. "Lutaremos para que seja paga pelos ricos", diz. O Brasil precisa crescer, mas a atual política monetária, em aliança com as políticas fiscal e cambial, tem sido o grande obstáculo à realização deste objetivo nacional.

Impactos de um círculo vicioso

É bom registrar que a política de juros altos desestimula o investimento e é um dos principais fatores para o processo de desindustrialização que ocorre no Brasil. Ou seja, reduz o aumento da capacidade produtiva. Ao final, a economia não cresce e cria-se um círculo vicioso: a baixa oferta provoca mais inflação, que faz os juros subirem mais, que inibe novos investimentos, o que, ao final, leva a taxas de investimento mais baixas.

E mais, os juros altos também desestimulam o consumo. E sem ter consumidores, os empresários decidem reduzir sua produção, e diminuem as contratações. Mais gente sem emprego significa menos consumo, e o círculo vicioso se perpetuaria.

Araújo lembra que o Brasil segue ocupando o primeiro lugar no ranking dos países que possuem as maiores taxas de juros real, descontada a inflação. "Os investimentos somente voltarão se houver consumo e redução do desemprego".