Estão me proibindo de torcer pelo meu clube do coração

Antigamente eu era parte da festa. A arquibancada era uma extensão do campo e eu jogava junto com o meu time. E promovia um espetáculo lindo de cores, luzes e sons. Bandeiras tremulando, coreografias, cantos de incentivo durante os 90 minutos. Era gostoso, ajudava o meu clube e era bonito de arrepiar.

Por Penélope Toledo

Torcida

Me achavam tão importante, que me consideravam o 12º jogador. Com razão! Já perdi as contas de quantas vezes comandei reações históricas, ajudei a virar placares inimagináveis, levantei a moral do meu time, fui o melhor jogador em campo! Os adversários tremiam quando me viam imponente por detrás do alambrado.

Só que hoje… ah, hoje as coisas estão mudando. Começou proibindo minha camisa, depois meus instrumentos, minhas faixas e bandeiras, meus sinalizadores e agora estão proibindo até a minha presença nos jogos! Hoje eu sou tratada como se fosse criminosa, como se fosse eu o grande problema do futebol.

Realmente há momentos em que alguns/as se passam por mim e se excedem. Mas eles/as não são eu! Eu discordo das brigas, sou completamente avessa à violência e defendo que estas pessoas sejam enquadradas na lei. Estas pessoas, não eu. É como sempre digo: que se puna por CPF, não por CNPJ. O meu negócio é empurrar o meu time e fazer festa, apenas.

O problema é que generalizam, dizem que eu sou violenta e por isto não posso ficar perto do meu clube. Como se só tivesse violência nos estádios de futebol. De repente, se esqueceram de que a violência está na sociedade e acontece o tempo todo, em todos os lugares. Infelizmente, tem gente brigando nas escolas, nos bailes, no trânsito, nas religiões, na política, nas famílias.
Sem contar que as formas mais cruéis de violência são latentes. Não tem violência maior do que a fome, a miséria, o desemprego, a precariedade dos sistemas de saúde, o privilégio no acesso à educação, as chacinas de jovens negros/as nas periferias, a derrubada da presidenta democraticamente eleita sem que tenha cometido crime de responsabilidade. Me fazem muitas acusações para encobrir os seus próprios defeitos.

Mas eu sei que a perseguição é porque reconhecem a minha força política. Eu cobro os dirigentes para contratarem jogadores e para reduzirem o preço do ingresso, cobro as federações por jogos em horários respeitosos, fórmulas de campeonato mais razoáveis e para que não deixem as emissoras de TV mandarem no futebol. Cobro, porque sou eu que pago o ingresso e porque sou eu que permaneço ali quando tudo dá errado.

Estão me proibindo de fazer o que eu mais amo: torcer de perto pelo meu clube do coração. Não percebem que o prejudicam tanto quanto a mim e que atrapalham também o espetáculo futebolístico.

Eu só quero que me deixem entrar nos estádios e fazer livremente a minha festa. Sem censura, sem criminalização. Eu preciso estar perto do meu clube, pois ele é a razão da minha existência. E ele bem que anda precisando de mim.

Porque eu estou lá o tempo todo, nos bons e maus momentos. Não cobro nada para fazer o meu papel, não me vendo, não troco de camisa, não há proposta milionária que me faça abandoná-lo. E é por amor a ele que garanto: eu não vou me entregar! Vou lutar até o fim pelo direito de torcer!

Assinado: Torcida.