Por que a hipersexualizada Globeleza está vestida neste carnaval?

Há décadas a Globo repete a mesma temática: Por volta do mês de janeiro, lá vem a mulher negra, nua, desfilando na vinheta, ao som da já desgastada melodia "Na tela da TV no meio desse povo". Dessa vez, a emissora dos Marinho resolveu "inovar" e, pela primeira vez, colocou a Globeleza vestida- a dançarina Erika Moura -, recebendo milhares de comentários nas redes sociais. O que significa essa mudança? 

Por Laís Gouveia 

Globeleza - Reprodução

Para a presidenta da União de Negros pela Igualdade (Unegro), Angela Guimarães, um novo contexto está sendo imposto na sociedade, fruto de uma longa luta travada pelos movimentos sociais e não por uma mudança de mentalidade da emissora. "A modificação reflete a pressão das organizações de feministas e negros, que intensificaram suas críticas à insistente estigmatização e hipersexualização das mulheres negras, reduzidas única é exclusivamente a corpos nus que invadiam os lares brasileiros a qualquer hora do dia e da noite", explica.

Angela reitera que o padrão de hipersexualização das mulheres negras estimulado pela Globo, em todos os carnavais, abre precedentes para o abuso e subestimação. "Essa reincidência na forma de nos representar acabava por autorizar a sistemática exploração sobre nossos corpos, nos reduzindo enquanto mulheres negras única e exclusivamente a dimensão sexual. Ignora, portanto, nossas contribuições intelectuais, econômicas, sociais, culturais", finaliza.

Com ou sem Globeleza, as mulheres negras seguem liderando índices de violência e exploração sexual, assim como também resistindo contra a cultura patriarcal que sobrevive durante os séculos. Parabéns não para a Rede Globo, mas sim para todos quem lutam contra a objetificação da mulher.

A Globeleza de outras edições:  hipersexualização da mulher negra