O fiel amigo da Otan no Cone Sul

Timoleón Jiménez, líder das FARC, deixou as coisas claras ao afirmar que "a luta contra o crime organizado, o terrorismo e narcotráfico" assumem, neste acordo, o lugar que antes ocupavam a "segurança nacional e a ameaça comunista".

Juan Manuel Santos (no centro) - runrun.es

No passado dia 23, o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, veio a público dar conta de que a Otan aceitava ampliar a cooperação com o país andino em matéria de informação e de luta contra o crime organizado, o terrorismo e o narcotráfico. E parecia não caber em si de contente:

"Encheu-me de alegria e satisfação, porque tínhamos este objectivo desde que eu era ministro da Defesa. Há nove anos, solicitamos um acordo de cooperação, que é a máxima instância que a Otan possui com países que não são seus membros para colaborar mutuamente, e [agora] entregaram-me a carta onde dizem que 'a Colômbia foi aceite!' ", afirmou Santos na antevéspera do Natal.

As intenções do Governo colombiano retomam a senda do acordo de "intercâmbio de informação e segurança" firmado, em 2013, com a Aliança Atlântica, era já Santos presidente e num tempo em que Pinzón – a quem alguns chamavam ministro da Guerra e inimigo da paz – ocupava a pasta da Defesa.

Mais ainda, o passo dado com vista ao estabelecimento de um acordo vem reforçar o papel que a Colômbia há muito ocupa no tabuleiro sul-americano: defesa das diretrizes norte-americanas e linha avançada dos interesses do imperialismo na região.

Com Hugo Chávez ali tão perto a cheirar o enxofre, os atritos com a Venezuela bolivariana não foram poucos – neles tendo assumido particular relevo a crise diplomática de 2010, subsequente ao acordo de cedência de sete bases militares aos norte-americanos em território colombiano. Dessa altura, há quem lembre, nos dias de hoje, a promessa então feita por Santos a Chávez de nunca meter a Otan ao barulho. Por isso mesmo, há quem chame a Santos um mentiroso, assim a direito.

Nicolás Maduro não se esqueceu da promessa. Depois do anúncio de Santos na antevéspera natalícia, e tendo por certo bem presentes todas as vias de ingerência destinadas ao seu país e aquilo que a Otan fez no Afeganistão, na Jugoslávia, na Líbia, no Iraque ou na Síria, Maduro pediu aos povos sul-americanos que digam "não" à Otan, que corram com ela de um continente que deve ser "livre de alianças militares de armas nucleares e de guerras".

Se o apelo de Maduro e a reação de repúdio por parte da República Bolivariana – sublinhando que um eventual acordo Otan-Colômbia viola os acordos de paz na região – não são de estranhar, também facilmente se percebe que, para a revolução cidadã equatoriana, o Estado Plurinacional da Bolívia e os mecanismos de integração Sul-Sul, este "possível acordo" nada promete de bom.

Timoleón Jiménez, líder das Farc, deixou as coisas claras ao afirmar que a luta contra o crime organizado, o terrorismo e narcotráfico assumem, neste acordo, o lugar que antes ocupavam a "segurança nacional e a ameaça comunista", ou seja, os propósitos de dominação imperialista não mudaram, apenas mudou a "desculpa" para justificar a ingerência, tanto na Colômbia como na "Nossa América" – ao serviço do militarismo, dos poderosos, daqueles que "se alimentam do empobrecimento e da miséria de milhares de milhões de seres humanos".

Será uma luta "longa e difícil", mas, face ao ao "júbilo de Santos", Jiménez não tem a mais pequena dúvida de que "acabaremos por vencer".