Animação conta a história da criação do universo pela voz de orixás

 Buscando uma nova forma de militância para o combate aos estereótipos em relação às religiões de matriz africana, nasceu a animação Orun Aiyê: a criação do mundo. Durante os 12 minutos de duração, o filme das diretoras Jamile Coelho e Cintia Maria, conta de forma didática como os orixás do candomblé interagiram para criar a Terra. Em iorubá, idioma de uma das etnias do continente africano, Órum significa o mundo espiritual e Aiyê, o mundo físico.

animação orixás

 As diretoras utilizaram a técnica de stop motion na produção das imagens – quando a animação é gerada através de fotos. O curta, inclusive, já foi premiado na categoria Novos Talentos do Festival Brasil Stop Motion, maior encontro do gênero na América Latina, que recebeu centenas de produções de mais de 40 países.

O filme conta com a narração de Bira, um griot — considerado porta-voz de muitas comunidades em diferentes regiões da África — para enredar a história. Os orixás representados são Olodumaré (ser supremo que estabeleceu a existência do universo), Orunmilá (que representa o conhecimento e sabedoria), Oxalá (orixá masculino associado à criação dos homens), Oduduwa (na animação, ele é irmão de Oxalá), Nanã (orixá que rege a justiça) e Exú (orixá que representa a comunicação e as ambiguidades presentes em todo homem).

Lançada em janeiro do ano passado e com roteiro de Thyago Bezzera, a obra levou 455 dias para ser finalizada e também levou o troféu de melhor filme no último Festival de Cinema Baiano. O compromisso com a acessibilidade também não foi deixado de lado. A animação está disponível em 5 idiomas diferentes, em libra e língua de sinais.

As diretoras, Jamile e Cintia, ampliaram o projeto para além da animação. Para incentivar o protagonismo de novos cineastas afro-brasileiros na produção audiovisual baiana, elas criaram o Núcleo Baiano de Animação em Stop Motion, que ajuda a promover o empoderamento social, geração de renda e fortalecimento identitário de jovens negros e negras na capital baiana.

Agora, o desejo das diretoras é fazer com que o filme chegue às escolas. A Lei 10.639, prestes a completar 14 anos de existência, pode ser um caminho para isso. Ela determina o ensino da história afro-brasileira nas escolas, e práticas como a exibição desta animação são ferramentas para promover o combate ao racismo e à intolerância religiosa.