Alma futeboleira

Quarta-feira (4) foi dia de clássico. E não era um qualquer, era simplesmente o mais romântico e charmoso da cidade de São Paulo, o derby dos imigrantes com o Juventus da Mooca e a Portuguesa como protagonistas.

Por Guadalupe Carniel*


Juventus jr futebol

Em plena quarta-feira, duas da tarde, cerca de 4500 pessoas deram um jeito como podiam e foram à mítica Javari para ver a vitória juventina por 1-0 na Copa São Paulo de Juniores. Além de lotar o estádio, cerca de 400 pessoas ficaram do lado de fora. Aliás, é isso que torna esse jogo um clássico: é num estádio que é uma espécie de forte, a resistência da cancha num país que cada vez mais prefere arenas multiuso.

É ele que resgata o que falta no futebol: alma. E nada disso tem a ver com os milhares que o time X coloca na sua arena (que não são torcedores em geral, a maioria é consumidor do tal produto futebol), não tem a ver com não sei quantos títulos, que tem Libertadores, que tem renda de tantos reais anualmente, nada disso importa ali. Sabe quando você vê aqueles vídeos mostrando a loucura que era o Maracanã na época dos geraldinos e arquibaldos? Tomadas as devidas proporções, quando você vai nesse clássico, sabe que vai sentir algo daquela época, mais orgânico.

Quando falo de alma é aquela coisa de fazer de tudo pra ir ver o seu time, inclusive dar desculpas esfarradas para faltar ao trabalho ou sair mais cedo, desmarcar compromissos em nome de algo maior. É chegar cedo, encontrar os amigos que fez na arquibancada, provocar o adversário. Entrar e sentir o coração tremer junto com o concreto. Sim, isso acontece no futebol, quem o conhece, atesta e dá fé disso. Subir no alambrado, pular por tudo de ruim que acontece e cantar e empurrar até o fim, como se estivéssemos num pândemonio ou num barco afundando e mesmo que isso estivesse acontecendo não nos importaríamos, estaríamos bem, afinal, o nosso time tá em campo e estamos lá, junto.

E quem diz que torcida não ganha jogo, experiemente ir num clássico lá na Javari. Ela é o décimo segundo jogador, é quem dita o ritmo do time e que o empurra para frente. E claro, dependendo do resultado ao terminar faz festa. E tudo isso num jogo que é a primeira rodada da Copinha, vista por muitos com desdém.

E até quando dura essa festa? Até o próximo clássico. Claro, outros jogos virão no meio do caminho, mas clássicos como este são um capítulo da história do futebol à parte. Ainda mais num mundo que agora o que vale são números, consumidores e não aquilo que sempre tornou o futebol tão especial, a alma.