No tapetão, não. Futebol se ganha dentro de campo

Pode parecer obviedade, mas no futebol se ganha e se perde. É preciso saber ganhar, respeitando quem perdeu. É preciso saber perder, aceitando a derrota e se recolhendo para lamber as feridas e se preparar para a vitória, como bem definiu o ex-presidente Lula sobre suas derrotas eleitorais.

Por Penélope Toledo*

futebol tapetão

Muitos clubes, porém, não aceitam o revés e apelam. O rebaixamento do Internacional reacendeu este debate quando o presidente Vitório Píffero ameaçou entrar com ação no STJD para que o Vitória perdesse pontos e caísse em seu lugar. Ele também chegou a falar em invalidar o campeonato, por ocasião da tragédia da Chapecoense. Felizmente, recuou: “Sim, fomos rebaixados. Sim, vamos cumprir a Série B”.

O nome popular da vitória fora de campo é “tapetão”. O termo faz referência à foto de um grosso tapete vermelho saindo da sala do STJD, em reportagem do Jornal do Brasil em 1969, criticando a absolvição do centroavante Flávio, do Fluminense, que havia sido suspenso. A matéria diz que o clube ganhara no tapete vermelho o que perdera no gramado verde.

Ironicamente, o Flu está associado ao tapetão no imaginário coletivo, devido a três situações: 1) ter seu rebaixamento à Série B cancelado em 1996 e, com isto, permanecido na A; 2) subir diretamente da 3ª Divisão para a 1ª em 2000, sem disputar a Segundona; e 3) não ser rebaixado em 2013, apesar de terminar em antepenúltimo.

Na outra ponta da tabela, o tapetão também é escalado. Vencedor da final do Catarinense de 2015, o Joinville ergueu a taça, deu a volta olímpica e comemorou o título no gramado. Mas o STJD lhe puniu com a perda de quatro pontos pela escalação irregular de André Diego Krobel e declarou oficialmente o Figueirense campeão.

Pelo mundo

Na França, o Luzenac, de uma cidade de 650 habitantes, subiu para a Ligue 2 em 2015, mas teve seu acesso negado por falta de condições financeiras. Ganhou na Justiça e foi vetado de novo, por falta de estádio, e mandado ao futebol amador. Crise financeira também rebaixou a italiana Fiorentina, em 2002, e os espanhois Real Murcia e Elche, em 2014 e 2015.
Tem também as punições, como a perda de pontos do grego Panathinaikos, em 2012, e do do Osnabrück, em 2015, ambos por causa de sua torcida. E mudanças no regulamento, caso de Vélez Sarsfield e Boca Juniors em 2014, que empataram em pontos e a federação marcou um novo jogo, vencido pelo Boca, ignorando que pelo critério de desempate, a vaga à Libertadores deveria ser do Velez.

O tapetão é antigo. Na Inglaterra em 1919, o Arsenal subiu para a elite por votação dos representantes da liga, sendo que tinha ficado em sexto na 2ª Divisão.

Futebol se ganha dentro de campo e eleição se ganha nas urnas

Infelizmente, a desonestidade de alguns dirigentes acaba maculando a biografia do clube. Em muitas vezes, a torcida sequer apoia a virada de mesa, prefere disputar dignamente a série inferior. Os dirigentes passam, o clube fica. Fica com a história manchada.

E a negação da derrota vai além do futebol. Nas eleições presidenciais de 2014, Aécio Neves (PSDB) vencia até 88,9% dos votos apurados, mas perdeu no fim para Dilma Roussef (PT) e não aceitou. Desde então, os tucanos e seus aliados iniciaram a perseguição que resultou no golpe de Estado, desprezando o voto de quase 55 milhões de brasileiras/os.

Em qualquer situação, é importante ter a humildade de acatar o revés. Perder é mais digno do que vencer de forma desleal. Que as conquistas no futebol sejam invariavelmente dentro de campo. Que as/os representantes do povo sejam definidas/os, a qualquer momento histórico, nas urnas. Senão, é tapetão. Senão, é golpe. Senão, é desonesto.