Lu Castro: Formiga, não saberemos lidar com sua ausência

Por minha cabeça não passava não escutar teu nome na próxima escalação. E eu vou lhe chamar, pretinha, enquanto a bola rolar. Perdoem esta tentativa fuleira de adaptar Novos Baianos, mas não vejo outra trilha encaixada no que tem a pretensão de ser o texto de homenagem a maior e mais longeva atleta do futebol brasileiro.

Por Lu Castro*

Miraíldes Maciel da Mota, a Formiga

Dispensarei toda e qualquer convenção. Não usarei de números porque não sou – nunca fui – da turma da estatística e muito do que tenho para falar de Miraíldes é do lado de fora do gramado. É do que ví e ouvi. É do que recebi.

A nega me deixou no vácuo desde o final das Olimpíadas. Eu imagino o que deve ter passado na cabeça dela. Eu imagino como ela deveria estar se sentindo. Eu sei que ela tinha um montão de coisa pra desabafar. Mas eu nem liguei pro vácuo que a nega me deixou porque eu respeito demais o momento dela.

Até hoje não consegui falar com a Fu. Não troquei metade da ideia que ainda quero trocar. Queria ser surpreendida de novo, em noite de natal, com um áudio dela me desejando coisas boas, tal como eu sempre desejei a ela um tantão de felicidade nessa vida.

Lembro da entrevista que ela estava concedendo ao Globo Esporte para uma matéria especial para as Olimpíadas, em novembro de 2014. Acompanhei a entrevista por trás da câmera, mas não me furtei do momento “minha ídola está aqui na minha frente, vou fotografar” e disparei muitas fotos, exceto quando as lágrimas começaram a cair ao relembrar do início de tudo. Nessa hora esqueci a câmera e a veia jornalística que vá pras cucuias! Ontem gritei para o repórter da Band na entrevista do final do jogo: Deixa ela, pô! Deixa ela chorar em paz! Dane-se a veia jornalística!

A Formiga, a mais amada do futebol nacional, é daquelas que conquistam sem fazer muito esforço. Acho até, que por tudo o que ela fez pelo futebol brasileiro, o que se viu hoje ao final do jogo na Arena Amazonia, foi pouco. Foi ridiculamente pouco! No mínimo ela merece um busto na sede da CBF e aposto que todo mundo dirá o mesmo, sem exagero algum!

Acompanhar a última escalação da Formiga, os últimos 90 minutos de Formiga em campo, os últimos carrinhos da nossa lenda e vê-la chorando durante o hino e ao final do jogo, me destruiu. Não, não destruiu apenas a mim. As pessoas que estão na modalidade, as pessoas que foram picadas pelo amor ao futebol feminino e todos aqueles que tem uma noção mínima do que é Miraíldes Maciel da Mota para o esporte brasileiro, sentiram a mesma coisa: um misto de alegria por ser contemporânea de Fu e tristeza porque ela não nos defenderá mais na seleção.

Está me destruindo projetar os próximos jogos da seleção sem o nome da Formiga na camisa 8. Geral não tá sabendo lidar com isso, essa é a verdade, e muita gente ainda estava esperançosa sobre uma possível desistência da nossa Mito. Mas eu respeito as decisões da Fu e compreendo a necessidade de se dedicar a outras coisas. Apoio qualquer decisão que ela tome não só por respeito, mas por uma certa cumplicidade, afinal, é muito natural que todos nos sintamos especialmente amigos dela.

Eu sei que a mulher não é lá muito dada a seguir as orientações médicas. “A Fu tá em tratamento. Vai ficar só na fisio e não pode treinar.” Treino prestes a começar e ela dá o migué da seguinte maneira: “Vou lá colocar o short porque se der pra entrar, né?”. Mal sabem que não tem comissão técnica que a segure. Quando percebem, Formiga já está em campo correndo, dando os toques na bola. Quem é que desgruda essas meninas?

E a disciplina? Ah, amigos…vocês não tem noção. Eu, cujo único esforço físico possível se resume a subir as escadas de casa ou carregar as sacolas do supermercado, nunca consegui conceber o que é a disposição física da Formiga. Vocês não sabem o que é a mulher treinar pesado por duas horas num campo bem irregular, debaixo de chuva e voltar para o hotel procurando a academia. “Bora Lu! Bora treinar!” Meio bestificada só consegui responder um “Eu não! Vai tu!”.

Vai Fu, vai ver o sol nascer, nega! Voa como que em campo e descanse o corpo das lesões, pelo menos por uns meses. É certo que você não tem a noção exata do tamanho da saudade que já estamos sentindo. Não tem noção do quanto o coração de milhares de pessoas NO MUNDO batem especialmente por você.

Isso me lembra das dirigentes do Formas Íntimas querendo bater uma troca entre você e a Ospina. Haha! Com todo respeito, mas nós a mandaríamos e elas nos dariam o Formas Íntimas e mais uns dois clubes para TENTAR equilibrar a troca? Que proposta indecente!

Você, Formiga, é nossa! Você É o futebol brasileiro. Você é a representação de tudo o que nós, reles mortais, gostaríamos de ser…e não chegaremos perto de conseguir! O que fica é o orgulho de ser próxima, de receber seu carinho, de ter sua confiança e poder bater no peito pra dizer: A Fu é minha parça!

Nem todos os obrigados do mundo são suficientes. Nem todas as palavras abarcam o sentimento de quem tem o privilégio de vê-la jogando.

Mas te prometo, não haverá um único dia da minha vida, em que não chamarei teu nome na escalação da seleção. Você, Formiga, está eternizada. Se não para todos, pelo menos no meu coração.

Alô camisa oito, agora você tem um novo nome: Formiga. Assim vou lhe chamar, assim você vai ser.

Assista abaixo a entrevista, emocionadae e emocionante, de Formiga após o jogo: