IX Bienal de Percussão homenageia Naná Vasconcelos

Desde março deste ano, mês da partida do percussionista pernambucano Naná Vasconcelos, algumas homenagens têm ecoado ao redor do mundo. O som do berimbau e de outros instrumentos folclóricos que o músico dominava com maestria somou-se à força propiciada pela saudade e pela emoção, e, desde a última quarta-feira (14) até domingo (18), isso poderá ser sentido em Fortaleza, com a IX Bienal de Percussão, também realizada com o objetivo de homenageá-lo.

Naná Vasconcelos

A iniciativa da Caravana Cultural, em parceria do Grupo Clã dos Santos, conta com a parceria do Instituto Dragão do Mar, e abriga uma extensa programação, com a realização de dois minicursos em percussão, aula-espetáculo, além de duas mesas redondas, com destaque para a participação especial de Patrícia Vasconcelos, esposa do homenageado, na mesa "Naná Vasconcelos/Música/Cinema/Maracatus".

"Estou sempre à disposição para ajudar. Agradeço demais essas ações, ainda mais vindo de Fortaleza, do Nordeste, que Naná valorizava muito", afirma Patrícia em entrevista ao Diário do Nordest. Depois do falecimento do músico, ela tem se empenhado diariamente na divulgação de seus trabalhos (inéditos ou não). E vê com extremo otimismo a proposta da bienal cearense, reconhecendo pouca mobilização nacional em torno do tema. "Tenho sido mais procurada por instituições internacionais, e acho que a obra de Naná foi imensa, profunda demais, o Brasil precisa manter isso vivo".

Células

Patrícia trará para a mesa de domingo (18), por volta das 10h, no auditório do Dragão do Mar, o que ela chama de uma das "células" do percussionista. "Naná teve várias fases. Ele vai mudando e sai pontuando isso; acho interessante dividir essas fases em células, para deixar tudo bem marcado", explica. A célula que ela trará para Fortaleza é a da ligação do músico com as crianças.

Em 2010, por exemplo, Naná realizou o projeto Língua Mãe, no qual reuniu meninas e meninos de três países (Angola, Brasil e Portugal) de língua portuguesa em oficinas musicais, o que resultou numa apresentação com a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Cláudio Santoro, com regência do maestro Gil Jardim.

"Não sou palestrante, sou a pessoa que conviveu com Naná durante 20 anos. Engenheira civil de formação, comecei a trabalhar com ele como produtora, e aprendi fazendo, vendo, naturalmente. Então vou fazer uma coisa bem espontânea. Vai ser bom para os novos músicos entenderem e se inspirarem nesse lado social de Naná", acredita Patrícia, que promete também trazer discos e outros objetos raros do percussionista para a ocasião. Com viagem de mudança marcada para Nova Iorque, em janeiro de 2017, ela adianta que está captando recursos para lançar o disco de inéditas, produzido pelo músico enquanto ele estava no leito do hospital; além de estar colaborando com um livro do norte-americano Daniel Sharp, que focará no Naná dos anos 70, imerso no álbum "Saudades".

Uma exposição que se pretende fixa, em algum memorial a ser projetado, também figura entre os planos da companheira do percussionista. "Tenho a impressão de que fora as coisas irão fluir mais rápido", aposta ela, ainda que tenha a intenção de priorizar o Brasil como sede desse futuro memorial.

Curadoria

Idealizador e diretor da Bienal de Percussão, Marcello Santos, que se reconhece como "cidadão do mundo", admite que não é de hoje a intenção de homenagear o pernambucano. "Há duas ou três edições, nós tentávamos fazer homenagens ao Naná. Cheguei a entrar em contato, mas para trazê-lo o orçamento era muito alto. Infelizmente, ele nos deixou esse ano, e aí, junto com outros organizadores tentei fazer essa homenagem póstuma, do nosso jeito, colocando os tambores na rua e tocando", conta.

Marcello já teve a oportunidade de participar de uma oficina com Naná Vasconcelos em Guaramiranga, e o conhecimento adquirido na ocasião também o impulsionou a promover as atividades dessa edição, que contará com os cortejos da Caravana Cultural e dos Maracatus Solar e Vozes da África, além das apresentações de grupos musicais – como Batuque Orquestra Solar de Tambores e Descartes Gadelha, Gilú Amaral (PE) e Grupo Uirapuru Orquestra de Barro.

Gilú Amaral, aliás, é outro que teve formação com Naná e hoje é tido como um dos melhores percussionistas do estado, somando trabalhos como a Orquestra Contemporânea de Olinda e a banda Academia da Berlinda. Na Bienal, ele realizará um workshop de orquestração percussiva, no sábado (17), às 10h, no Sesc Iracema (com inscrições gratuitas, por ordem de chegada e limite de 30 vagas). Um show do músico também está programado para as 23h do mesmo dia, no Espaço Rogaciano Leite Filho.

O evento busca priorizar ainda a cena percussiva local. "A Bienal é uma amostragem do que está acontecendo aqui também. De dez anos pra cá, por exemplo, o movimento dos blocos de Carnaval está crescendo, formou mais de 500 novos percursionistas. Além das universidades, como a Unilab e a UFC, com o curso de Música, que tem dado grandes contribuições nesse sentido", observa Marcello. Os tambores estão nas ruas e é para lá que a gente vai.

Mais informações

IX Bienal de Percussão – Encontro Estadual de Percussão. De 14 a 18 de dezembro, no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, no Sesc Iracema, no Batukaya Geral e no Espaço Ajeum d'Oyá. Classificação livre. Gratuito. Inscrições presenciais para palestras e workshops. Vagas limitadas. Programação completa disponível no evento do Facebook.