Walter Sorrentino: Chacina da Lapa – Homenagem é compromisso de luta

Na última terça-feira (13), a Câmara Muncipal de São Paulo, através do vereador Jamil Murad (PCdoB) realizou sessão no Salão Nobre uma homenagem aos mártires da Chacina da Lapa. Na ocasião, o vice-presidente nacional do PCdoB, Walter Sorrentino fez uma emocionada intervenção em nome da Presidência do Partido Comunista do Brasil pelos 40 anos de o fato ter ocorrido. A seguir, a íntegra de sua fala no evento:

Ato 40 anos da chacina da Lapa. Walter Sorrentino discurso - César Xavier/Fundação Mauricio Grabois

Nobre Vereador Jamil Murad, companheiro e amigo que preside a Mesa desta solenidade. Cara Nádia Campeão, vice-prefeita de SP, camaradas Aldo Arantes e Haroldo Lima, Augusto Buonicore representando a Fundação Maurício Grabois.

Amigos e amigas presentes, Senhoras e Senhores

Recebam calorosa saudação da direção nacional do PCdoB em meu nome e no de Luciana Santos, nossa presidenta nacional

Quero parabenizar esta iniciativa de Jamil Murad em homenagear os mártires da Chacina da Lapa, aos 40 anos de sua ocorrência. Agradecer também à Câmara dos Vereadores de São Paulo: esta é a Casa da representação plural do povo paulistano, o poder mais democrático entre as instituições; Casa de disputas políticas, sim, mas espaço democrático por excelência. Não à toa são os Parlamentos os primeiros a serem atingidos pela exceção.

Tomo a liberdade de prestar um tributo ao papel e fazer votos de pronta recuperação a esse insigne personagem que entrou para a História já em vida pela coragem: D. Paulo Evaristo Arns, sempre presente na luta contra o arbítrio e pelos direitos humanos.

Hoje é uma data fatídica em nosso país. Há 48 anos se proclamava o AI-5, que abriu o período do terrorismo de Estado na ditadura militar – aliás só encerrado com o episódio da Chacina da Lapa. Igualmente, hoje se condena a nação e os interesses do povo pelos próximos 20 anos, com a aprovação da PEC 55 no Senado Federal. Tristes e duros tempos estão de volta.

Há 40 anos, a Chacina da Lapa se deu num cenário de arbítrio, um regime de exceção, amparado numa doutrina que admitia o povo, os patriotas e democratas, como inimigo interno. Voltou-se contra o PCdoB, em cujos 54 anos de existência à época, não tivera nem 4 anos de legalidade.

Foi ato hediondo e covarde, condenado até mesmo pela convenção de Genebra prevista para os crimes de guerra. Esteve a serviço de uma causa perdida.

Homenagear a memória dos que lá tombaram não o fazemos por saudosismo, mas para registro da imortalidade dos fatos da resistência democrática de nosso povo e para seguidamente extrair lições.

Hoje, falo da lição de que a Justiça e a Liberdade, cedo ou tarde, acabam por se impor, mesmo que às custas de sangue.

A lição de que não há vitórias irreversíveis nem derrotas definitivas, como comprovado com a luta do PCdoB desde então e a luta contra a ditadura.

A lição de que o arbítrio tem muitas faces, mas é sempre o mesmo na história brasileira: as elites é que massacraram a democracia no Brasil, para implantar uma agenda antipopular e antidemocrática. A esquerda sempre foi seu maior sustentáculo.

A lição, cara para nós comunistas, de que à base de princípios, com justa e hábil orientação política, vingou mais uma vez o PCdoB, fortalecido pela atuação legal destes últimos 31 anos de legalidade.
Hoje nos havemos com vigorosas ameaças à nação e ao povo, tendo por base a agressão à norma democrática constitucional e o Estado de direito.

O golpe do impeachment desatou a marcha da insensatez que incuba os dramáticos acontecimentos da crise política e estimula intolerância fascista de setores da sociedade.

Uma nova ordem política vai sendo construída, de caráter antinacional, antipopular e antidemocrática.

Instituem-se medidas de exceção no seio do Estado democrático de direito. Um poder paralelo vai se erigindo com base em setores do aparato burocrático do Estado (Judiciário, Ministério Público, Polícia Federal) com apoio vigoroso da Globo, como outrora, e pretende fazer terra arrasada da política e do sistema político.

O arbítrio assume hoje a face da toga, está em curso o tenentismo de toga, visando a acometer contra a política em geral. Os primeiros atingidos são os mesmos de sempre: a democracia, o Congresso, o povo em geral.

Nessas horas a lição é de que precisamos lutar e resistir, unir amplas forças para combater contra o Estado de exceção e pela democracia.

A esquerda política e social, patriotas e forças progressistas, até mesmo liberais conservadores que compreendem o valor da democracia para o projeto de nação, precisam se unir.

Combate que tem por base mínima e larga a luta pela soberania do voto popular para dar saídas à crise política que bloqueia a economia e afunda o povo em sofrimentos crescentes.

Combate que exige a mobilização política do povo, sobretudo, como também atuar no âmbito do sistema e instituições políticos, alvo da sanha judicializante para criminalizá-la.

Esse é o passo urgente da hora para, no seio dessa resistência, podermos construir uma alternativa de esperança para o Brasil, de caráter patriótico, popular e democrático.

Companheiras e companheiros,

A luta prossegue e nós, comunistas, herdeiros dos que tombaram na Lapa, combateremos à luz do exemplo que eles nos legaram

Inclinamos nossas bandeiras como preito de homenagem e compromisso de luta em memória de Pedro Pomar, Ângelo Arroyo e João Batista Drummond, também de Elza Monnerat e João Amazonas, saudando aqui a presença sempre ativa dos bravos Aldo Arantes e Haroldo Lima.

Uma vez mais, junto à imensa maioria do povo brasileiro, venceremos, a democracia vencerá, e prosseguiremos nas grandes jornadas históricas por uma pátria livre e independente, de progresso e justiça social, de maior liberdade para o povo.

Boa noite e muito obrigado a todos e todas.