Obrigado, Chape

Neste domingo (4) as principais torcidas organizadas dos quatro times de São Paulo se reuniram, num ato de paz, na frente do estádio do Pacaembu, para homenagear as vítimas, e seus familiares, do acidente com o time da Chapecoense, em Medellín.

Por João Rodrigues*

Torcidas Organizadas

Esse encontro – que me deu um arrepio desgraçado quando fiquei sabendo – mais uma linda homenagem ao querido Verdão do Oeste, é a prova de que é possível reunir essas agremiações de torcedores num contexto fraternal, tornando-o um evento com potencial de mudança muito grande.

Ele é um grito de liberdade que vem das arquibancadas, é golpe nas opiniões rasas, cheias de dicotomia, destiladoras de preconceitos, que assolam as discussões sobre as torcidas organizadas e o seu papel, dentre e fora dos estádios. Nos mostra que a coexistência pacífica entre os tais grupos, e as torcidas que eles "representam", é alcançável, e que associar a violência dos estádios exclusivamente a essas pessoas é um erro muito grave que apenas dificulta na resolução de um dos problemas do nosso futebol.

Até segunda-feira passada essa reunião era algo inimaginável de acontecer – uma pena que ela só tenha acontecido por causa de uma tragédia dessas – mas há de se pensar que existem males que vem para o bem e que o encontro deste domingo pode marcar o primeiro passo para que possamos devolver ao nosso futebol aquilo que ele tem de mais importante, a nossa cultura de arquibancada. Que possamos devolver a ele os estandartes, sinalizadores e pirotecnias, o papel (picado ou higiênico), os tambores, os clássicos com torcida 50/50, a cerveja… Tudo,
mas não só.

Para além disso, o fato é que ir ao estádio pode ser bom para muitos (mesmo sem todas as coisas que citei), mas existem outras parcelas das nossas torcidas que não se sentem à vontade para frequentá-los e para isso é necessário que retiremos da arquibancada apenas o que de fato não serve à ela: racismos, fobias, "Ôoo, biiiicha"… Para que todos os torcedores, alma de tudo isso, possam voltar à claque, só que dessa vez com mais mulheres e crianças, e que nós possamos ter nossos estádios sempre lotados, celebrando a festa do futebol.

Minha esperança e a fé na humanidade foram restituídas neste domingo quando sai da Praça Charles Miller. Então, termino aqui com o sentimento de que possamos aprender algo com esse acidente e que com ele as coisas realmente mudem e nós possamos colher bons frutos no futuro.

Obrigado, Chape.

*Músico e torcedor do São Paulo