Tragédia da Chapecoense: Solidariedade é válida, mas é preciso agir

Após o acidente de terça-feira (29) com o avião que transportava a equipe de futebol da Chapecoense, o mundo prestou homenagens, das mais variadas e de diferentes maneiras. O Atlético Nacional, clube que jogaria com a Chapecoense pelo título da Copa Sul-americana, abriu mão do troféu e da premiação que a Confederação Sul-americana daria ao vencedor da disputa, que teria sua primeira partida na noite de quarta-feira (30).

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Em todo o planeta, os jogos de terça e quarta tiveram um minuto de silêncio em homenagem aos 71 mortos na tragédia. Os clubes brasileiros tomaram uma atitude e encaminharam uma nota à CBF, entidade que dirige o esporte no país, com medidas para socorrer a entidade esportiva catarinense.

Elas contemplam ajudar o clube com empréstimo de jogadores e fazer com que a Chapecoense não seja submetida a descenso para a Série B nos próximos 3 anos, com a finalidade de reerguer e manter o clube de Chapecó em atividade.

Barcelona e Real Madrid, que jogarão no próximo sábado (3), decidiram doar a renda da partida ao clube brasileiro. Equipes sul-americanas, como o Libertad, do Paraguai, ofereceram seu plantel de jogadores para a equipe.

No Brasil, o Palmeiras, que obteve seu título de campeão justamente em partida contra a Chapecoense, já anunciou que vai jogar com o uniforme dos catarinenses em Salvador, contra o Vitória, pela última rodada do Campeonato Brasileiro, adiada para o dia 11 de dezembro.

A intenção era de que todos os clubes jogassem esta última rodada com o fardamento da equipe que sucumbiu em Cerro Gordo, perto de Medellin. No entanto, a empresa fabricante do material esportivo não poderá fornecer as camisas, pois não haverá tempo disponível para a fabricação de 400 conjuntos de uniformes, segundo empresários da Umbro.

A dúvida que persiste é o que deverá acontecer com os familiares daqueles que não fazem parte do elenco ou da comissão técnica da Chapecoense. Até o momento não foi feito nada de concreto para ajudar as famílias das vítimas.

Embora haja familiares que dependem do dinheiro dos futebolistas mortos, eles serão provavelmente os menos atingidos, já que a CBF fez um seguro que pode chegar a 1,2 milhão de reais para cada jogador. hà a ressalva, porém de que o seguro é válido somente para os jogadores e não atinge membros de comissões técnicas, e cobre casos de morte ou acidentes que resultem em invalidez permanente ou funcional.

A confederação e o clube têm procurado agilizar ao máximo o processo de pagamento de outro seguro, que garante aos parentes das vítimas um valor equivalente a um ano de salário de cada atleta, mais um adicional de R$ 5 mil de auxílio funerário.

As famílias dos jogadores que ganham mais de R$ 100 mil por mês receberão o teto máximo assegurado, R$ 1,2 milhão. É o caso do jogador Cléber Santana, por exemplo. Os jogadores que sobreviveram também terão direito ao seguro em caso de incapacidade parcial ou total.

Em entrevista ao jornal paulistano Gazeta Esportiva, o especialista em direito desportivo Pedro Fida, a tragédia ocorrida fora do país obrigará os parentes a viver uma “saga” até a definição da jurisdição em que serão movidos os processos.

O advogado observa que o acidente envolve um aeronave Avro RJ-85, de fabricação britânica, e que era pertencente à Lamia, uma empresa de capital venezuelano e com sede na Bolívia.

“É um incidente transnacional, isso não é tão simples. Quem vai pagar a conta no final são as resseguradoras, que assumem a conta da seguradora principal. Mas, como é uma empresa aérea pequena e boliviana, talvez a apólice não seja tão robusta. Há dúvidas também com relação à saúde financeira da seguradora e da própria empresa na hora de pagar”, disse Fida à Gazeta Esportiva.

À parte disso, o mundo do futebol aguarda ainda ações concretas por parte de federações, clubes e torcedores, no Brasil e no mundo, que vão além dos gestos nobres de solidariedade.