Romancista chileno homenageia Chapecoense

Os povos do mundo se unem ao Brasil para chorar a tragédia da Chapecoense. São minutos de silêncio em jogos de futebol, times que nunca enfrentaram o clube catarinense mas que levarão seu escudo estampado em suas camisas no próximo final de semana, entre outras manifestações de solidariedade e fraternidade para com as vítimas, familiares e todo o povo brasileiro.

Por Felipe Bianchi

Felipe Ignacio Risco Cataldo

O jovem romancista chileno Felipe Ignacio Risco Cataldo é autor de mais uma dessas belas homenagens aos eternos heróis da Arena Condá. Autor precoce de um punhado de obras publicadas em seu país, Cataldo compartilha da flamejante paixão do continente pelo futebol. Escreveu, em 2015, o belíssimo Angustiosa Celebración, obra que eviscera a indissociável relação entre futebol e política.

A publicação descreve a história de Fabián Lecaros, torcedor aficionado do Unión Española obrigado a enfrentar um excruciante paradoxo: enquanto sofre, junto à massa de trabalhadores chilenos, a brutal repressão da era Pinochet, o seu clube vive época de ouro, mantendo proximidade com o regime.

O escritor dedicou seu talento para homenagear a Chapecoense em texto publicado em seu Facebook.

Abaixo, reproduzimos a versão original, em espanhol, e a tradução para o português.

¿Dónde está el sol avasallador que anunciaron para hoy los meteorólogos de la televisión?
Lo pregunto porque yo sólo veo nubes lúgubres a punto de explotar un llanto desconsolado
Tal vez sea el reflejo de mi aflicción que sin embargo no se traduce en lágrimas
Sino en palabras melosas que fluyen a borbotones en el amanecer más amargo del fútbol

¿Quién dijo que hoy está suspendida la final de la Sudamericana?
Simplemente se cambió el escenario
No se disputará en el Estadio Atanasio Girardot
Sino en la bendita cancha celestial
Allá, en el reino de los afortunados, corren los once héroes brasileros en el partido más importante de sus vidas
Mientras desde acá, desde este triste y miserable planeta Tierra, los alentamos miles de millones de hinchas que desde ayer en la madrugada vestimos sus camisetas verdes adheridas a la piel
Nos hemos sumado a esos 200.000 locos lindos de Chapecó
Y para conocer los pormenores de la final hemos enviado a 22 periodistas que nos estarán informando al instante
El partido comienza y los jugadores del Chapecoense se despliegan en la cancha con la motivación de quien está por conquistar el corazón de su primer amor
A los pocos minutos, el delantero Canela abre el marcador con una hermosa contorsión circense nunca vista en las canchas del mundo
Es un grito de gol que se escucha profundo desde el más allá, en el tangible minuto de silencio que se ha dispuesto en todos los estadios de este triste y miserable planeta Tierra
Ya en pleno segundo tiempo, cuando el rival busca desesperado el empate, el portero Danilo sorprende otra vez con una atajada memorable, emulando esa tapada divina con los pies de la semana pasada que los ha llevado a disputar este divino compromiso
En Chapecó, su hijito, también vestido de amarillo, festeja abrazado a su madre con sus diminutos y tiernos guantes de arquero.
Ahora Chapecoense hilvana un contragolpe bendito y Thiaguinho anota el 2-0
El autor del gol se dirige a la cámara de uno de los enviados especiales de la prensa, para dedicárselo a su hijo que viene en camino
El singular árbitro de barba y larga cabellera rubia toca el último pito y en consecuencia el Chapecoense es el nuevo campeón de la Sudamericana.
El relator Deva Pascovicci desliza el relato más emotivo del que se tenga recuerdo y sus lágrimas inundando su micrófono interfieren el sonido que llega desde el más allá
El bienaventurado plantel da la vuelta olímpica y desde las tribunas los apóstoles les lanzan flores de un color tan hermoso que nunca veremos en este triste y miserable planeta Tierra.
El soñador Sandro Pallaoro, el presidente del Chapecoense, describe conmovido el fulgurante ascenso de este modesto club y se funde en un abrazo eterno con el alma de sus jugadores
Parados en la tarima de una nube, el plantel campeón se apresta a recibir la premiación
Van pasando uno a uno al lado de la virgen que les coloca una corona de flores
Luego los ángeles les depositan las medallas en sus cuellos de gladiadores
Y finalmente Dios le entrega el trofeo de campeón al capitán Cléber Santana, quien lo pasa de mano en mano entre sus benditos compañeros.
El festejo prosigue en las calles del paraíso que se inunda de papeles verdes
Incluso, a los héroes de Chapecó los acompaña un sinnúmero de palomas blancas que llevan una rosa de olivo adosada al pico
Allá, en el reino de los afortunados, todo es alegría y bendición
Mientras acá, en este triste y miserable planeta Tierra, los apesadumbrados futboleros sólo esperamos que nos traigan la copa para recuperar las ganas de vivir…

Em português:

Aonde está o sol avassalador que anunciarão para hoje os metereólogos da televisão?

Pergunte pois vejo apenas nuvens lúgubres a ponto de explodir em choro desconsolado.
Talvez seja o reflexo de minha aflição que, sem embargo, não se traduz em lágrimas
Senão em palavras melosas que jorram do amanhecer mais amargo do futebol

Quem disse que está suspensa a final da Copa Sul-americana?
Simplesmente mudou-se o cenário
Não será disputada no estádio Atanasio Girardot
Mas em uma bendita cancha celestial
Lá, no reino dos afortunados, correm os onze heróis brasileiros na partida mais importante de suas vidas
Enquanto desde aqui, desde este triste e miserável planeta Terra, os alentamos milhares de milhões de torcedores que, desde a madrugada, vestimos suas camisas
verdes coladas na pele
Nos somamos a esses 200.000 loucos lindos de Chapecó
E para conhecer os pormenores da final enviamos 22 jornalistas que nos informação em tempo real
O jogo começa e os jogadores da Chapecoense saem ao gramado com a motivação de quem está por conquistar o coração de seu primeiro amor
Em poucos minutos, o atacante Canela abre o placar com uma bonita contorção circense nunca vista em nenhum estádio do mundo
É um grito de gol que se escuta profundo desde o além, no tangível minuto de silêncio que ocorreu em todos os estádios deste triste e miserável
planeta Terra

Já no segundo tempo, quando o rival busca desesperado o empate, o goleiro Danilo surpreende outra vez com uma defesa memorável, emulando com as mãos a defesa divina que fez com os pés na semana passada e que os levou a disputar este divino compromisso
Em Chapecó, seu filhinho, também vestido de amarelo, festeja abraço à mãe, com suas diminutas e ternas luvas de goleiro
Agora a Chapecoense alinhava um contragolpe bendito e Thiaguinho marca o 2 a 0
O autor do gol se dirige à câmera de um dos enviados especiais da imprensa para dedicá-lo ao seu filho que está a caminho
O singular árbitro de barba e cabelos loiros compridos soa o último apito e, em consequência, a Chapecoense é a nova campeã da Sul-americana
O narrador Deva Pascovicci desliza o relato mais emotivo do qual se tem recordação e suas lágrimas, inundando seu microfone, interferem no som que chega desde o além
O bem aventurado plantel dá a volta olímpica e desde as arquibancadas os apóstolos atiram flores de uma cor tão linda que nunca veremos neste triste e miserável planeta Terra
O sonhador Sandro Pallaoro, presidente da Chapecoense, descreve comovido a fulgurante ascensão do modesto clube e se funde em um abraço eterno com a alma de seus jogadores
Parados no cume de uma nuvem, o plantel campeão começa a receber a premiação
Vão passando um a um ao lado da virgem que lhes adorna com uma coroa de flores
Logo os anjos depositam as medalhas em seus pescoços de gladiadores
E finalmente Deus entrega a taça de campeão ao capitão Cléber Santana, que o passa de mão em mão entre seus benditos companheiros.
O festejo prossegue nas ruas do paraíso, que se inunda de papéis verdes
Inclusive, os heróis de Chapecó são acompanhados de um sem número de pombas brancas que levam um ramo de oliveira em seus bicos
Lá, no reino dos afortunados, tudo é alegria e benção
Enquanto aqui, neste triste e miserável planeta Terra, os cabisbaixos boleiros apenas esperamos que nos tragam a copa para recuperarmos as ganas de viver…

ANEXOS:
Capa do livro Angustiosa Celebración
Foto do romancista no estádio do Nacional de Medellin. LEGENDA: Felipe Risco Cataldo no estádio Atanasio Girardot, onde a Chapecoense disputaria a final com o Atlético Nacional de Medellín.

*Jornalista do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé e membro do Coletivo Futebol, Mídia e Democracia.