A eleição nos EUA: a resposta fascista aos avanços democráticos 

No momento que o mundo assiste ao final do processo eleitoral nos EUA e as pessoas manifestam sua com preocupação a vitória de Donald Trump, que pautou sua campanha na difusão do preconceito, da xenofobia, da misoginia, do ódio, da mentira, nos perguntamos o que isso tem de semelhante com o cenário político no Brasil? E a resposta é: tudo!

Por Paulo Pimenta* 

O resultado do plebiscito no Reino Unido e a vitória de Brexit, a rejeição ao acordo de Paz no
plebiscito colombiano, o golpe jurídico parlamentar no Brasil, o crescimento dos partidos de extrema direita na Europa são resultado de um mesmo processo.

A resposta fascista é estratégica para conter as conquistas democráticas, dando melhor resposta ao sistema neoliberal cuja hegemonia do capital financeiro implica na abertura total às multinacionais e na redução do Estado na esfera social. Esse processo de rearticulação do capitalismo mundial, que se define com um sistema a favor das elites, impõe medidas de
arrocho econômico à população em sintonia com o desmantelamento o Estado democrático de direito.

A crise internacional, que persiste há quase uma década, desde 2008, inicialmente nos EUA, depois na Europa e mais recentemente nos Brics e países emergentes, fabrica justificativas para a tomada de medidas extremas antidemocráticas e não humanistas, favorecendo, assim, o discurso triunfante a favor de um mundo individualista e excludente, do “nós contra eles”, que descarta seus excedentes humanos, atua para desconstituir os sujeitos de direito de sua condição de cidadania e marginalizá-los, cumprindo o ritual de combate aos imigrantes, às mulheres, à população LGBT, aos negros (as), aos povos indígenas, aos jovens que protestam.

Nesse mundo vigora a mentalidade da meritocracia fraudulenta que remete o sucesso ou fracasso ao resultado do esforço exclusivamente individual, e apela para o lema de ordem o progresso. Entendendo a dinâmica da exclusão, não podemos relegar a disputa de valores em torno de uma moral conservadora que serve como capital político para ascensão dos defensores de um regime político opressor que faz o giro do abandono das políticas sociais.

Ao cooptar setores da sociedade para uma visão conservadora e reacionária que, inferioriza as mulheres, despreza as pessoas em situação de pobreza, criminaliza os movimentos sociais e condena as diferenças, aplica-se o receituário de redução de direitos que caracteriza o atual contexto.

As táticas de manipulação e cinismo forjadas por mecanismos que disseminam a mentiras tomadas como verdades e instalam o medo por meio de medidas de repressão também se apoiam nos discursos de ódio que se fundam no não reconhecimento da dignidade humana para estimular o enfrentamento entre os indivíduos e a indiferença, suplantando a ideia de bem-estar social. Dentro dessa lógica agressiva, a mídia alinhada à política de Estado entreguista e subordinada constrói a figura do “outro” como a representação do mal, do
problema social, do desvio moral que, portanto, deve ser eliminado. O confronto aos direitos humanos, aos ideais de justiça social, solidariedade e inclusão serve para justificar o Estado de exceção.

Vivemos uma ruptura com o projeto de fazer do Brasil um país de todos (as) que afasta o país das concepções de direito à igualdade, valorização das diferenças e inclusão e resulta em um retorno aos patamares estrondosos de exclusão e enfraquecimento da democracia em todas as suas dimensões.

Os resultados eleitorais de 2016, seja nos municípios brasileiros ou nos EUA, mostram uma configuração nada estranha em tempos de desprezo à democracia e supremacia das políticas neoliberais.

No Rio de Janeiro, Marcelo Crivella se elege prometendo ser implacável com a suposta “ideologia de gênero”; em Curitiba, Rafael Greca extravasa a estupidez do sistema para poucos e revela sentir ânsia de vômito com o cheiro de pobres; em Porto Alegre, o cinismo eleitoral do momento apresenta como expressão do “novo” a candidatura de Nelson Marchezan Jr., cuja origem política remete aos partidos que sustentaram ditadura militar no país e; em São Paulo, João Dória vence representando um artifício manipulador que volta a favorecer a superioridade eleitoral dos mais ricos e a despolitização de eleitores. O ano de 2016, embora não seja exceção dentro do sistema, evidencia com mais propriedade a resposta fascista aos avanços democráticos.