Florestan Fernandes, lutador pela educação emancipadora

Quando o MST usou o nome do sociólogo Florestan Fernandes para batizar sua Escola Nacional de Formação, prestou homenagem a um dos principais intelectuais da esquerda brasileira e também intimamente ligado à luta pela escola pública gratuita em todos os níveis, para todos os brasileiros.

Por José Carlos Ruy

Casa de Artes Frida Kahlo na Escola Florestan Fernandes - Divulgação

Florestan foi um dos principais professores de ciências sociais na Universidade de São Paulo (USP), e teve entre seus alunos uma legião de intelectuais, entre eles, dois nomes que com o passar dos anos se tornaram díspares. Um deles foi Octávio Ianni, um pensador marxista que passou seus últimos anos de vida fazendo o esforço de compreender a globalização neoliberal e os malefícios que dela causa aos trabalhadores. O outro é Fernando Henrique Cardoso, que fez o trânsito contrário, passado da oposição à ditadura militar de 1964 para o centro conservador para, depois, se tornar num dos principais ideólogos da direita nativa.

Florestan sempre conservou suas posições avançadas e progressistas, que radicalizou ao longo da vida. Teve origem muito humilde, filho de uma empregada doméstica e não conheceu o pai. Começou a trabalhar cedo, aos 6 anos de idade. Estudou com dificuldades e concluiu o equivalente ao ensino médio através do antigo curso de “madureza”. Incentivado por Roger Bastide, um professor francês que lecionava na USP, conseguiu entrar na universidade na década de 1940 e, logo, tornou-se assistente do professor. Naquela época foi militante ativo na luta pelo ensino público, gratuito e de qualidade para todos.


Florestan Fernandes foi um dos mais importantes sociólogos do Brasil 

Após o golpe militar de 1964, foi cassado pelo AI-5 e proibido de lecionar no Brasil; iniciou então importante carreira de professor no exílio, lecionou no Canadá e nos EUA. De volta ao Brasil, em 1978 tornou-se professor na PUC/SP.

Filiado ao Partido dos Trabalhadores, foi eleito deputado federal em 1987. Seu pensamento tornou-se cada vez mais densamente revolucionário, sendo um pensador marxista original cujos temas principais eram o Brasil, suas vicissitudes políticas, e as contradições vividas pelo povo brasileiro.

Quando a Escola Nacional do MST ficou pronta, em janeiro de 2005, faziam dez anos de seu desaparecimento – ele morreu em São Paulo, em 10 de agosto de 1995.

Florestan teria gostado da homenagem feita a ele, usando seu nome para batizar aquela escola que, sendo popular, é muito avançada e mantém convênios com várias universidades brasileiras. Até 2015 o centro havia formado 6.000 estudantes – entre eles inúmeros trabalhadores rurais sem-terra – todos com o mesmo objetivo que movera Florestan ao longo de sua vida: preparar o povo e os brasileiros para lutar por uma sociedade justa, avançada e socialista.