Eles passaram e Emily Lima agora é a mulher da seleção feminina

Receio que o texto desta quinzena saia um pouco da característica sintética que busco imprimir na minha escrita. A razão é bem simples: a terça-feira, 1 de novembro de 2016, foi marcada por uma movimentação diferente no universo do futebol feminino. Para explicar, é preciso retomar um pouco da história nos últimos meses, antes dos Jogos Olímpicos do Rio, mais especificamente.

Emily Lima

O grupo de pessoas reunidas pelo Comitê de Reformas da CBF para discutir e sugerir mudanças no futebol feminino brasileiro, preparou um documento com todas as alterações entendidas como necessárias nos mais diversos aspectos da modalidade, do desenvolvimento até a seleção principal.

Fiz parte disso até o envio das sugestões do que foi chamada “Onze Ondas de Implementação”, sendo que a ação prioritária seria a criação de um departamento de futebol feminino na entidade, preferencialmente comandado por uma mulher. A legitimidade, portanto, perpassou todo o conteúdo estudado e sugerido.

Após as Olimpíadas e ao fim da participação da seleção feminina no torneio olímpico, questionei o Coordenador do Futebol Feminino na CBF, Marco Aurélio Cunha, sobre a manutenção da comissão técnica na seleção, que me respondeu com a continuidade da seleção permanente, Vadão e Fabricio Maia até o final do ano.

Não me dei por satisfeita e pedi meu desligamento do grupo por não comungar com a continuidade de um trabalho que ficou aquém do esperado se usarmos o investimento como parâmetro.
Avançando no tempo…

Tivemos então a notícia que nesta terça teríamos o anúncio das mudanças no Brasileiro Feminino. Já sabia que tratariam de “unificar” Brasileiro e Copa do Brasil. O diretor de competições da CBF foi muito feliz em seu pronunciamento, dizendo que as mudanças fazem parte de um “resultado prático das sugestões do GT”, já que em nenhum momento sugerimos que se colocasse fim à Copa do Brasil. Entendo que é possível caminhar com duas competições nacionais e dinheiro não é o problema. Ao contrário, temos mais uma competição cuja história se perde numa ruptura desnecessária. Não criamos uma tradição, assim como não temos clubes com mais de 20 anos de existência e em plena competitividade. Uma lástima.

De repente me pego com Monty Phyton na cabeça em “A vida de Brian” e aquela música que, de um cinismo inglês inconfundível, surgiu num grosseiro assovio desta escriba.

“Always look on the bright side of life…fiufiu fiufiu fiufiu fiufiu”.

As notícias não surgem do nada e no futebol feminino a fumaça invariavelmente indica que há fogo SIM! Tanto que por volta das 21h00 de ontem, 31, alguém veio especular sobre a queda de Vadão e Fabrício Maia e a possível indicação de Emily Lima como a nova comandante da seleção feminina principal.

WOW! Será? Algumas horas depois, a mesma resenha surge noutro grupo. Caiu Vadão e Fabrício, Emily assume. Okay, vamos conter a alegria e aguardar nota oficial.

Enquanto isso, na cachola da Lu: “Mas…e a palavra de Marco Aurélio Cunha? E o fato de ter colocado Fabrício Maia em seu lugar durante sua licença para tentar arrumar a bagunça instaurada no São Paulo? Ora ora ora…teria MAC perdido força política na CBF? E o que fez Fabrício Maia neste tempo? Voltará para a Ferroviária? Voltando, terá a Ferrinha comandada agora por uma mulher, a jovem gaúcha Michele Kanits…xiiii..azedou o pé do frango!”

Por outro lado, um dos argumentos mais utilizados nas reuniões do grupo de trabalho quando o assunto “participação das mulheres nos postos de comando, comissão técnica e afins” surgia, era o famigerado “não há problema algum, desde que estudem, se especializem, se preparem”, ao que eu contra argumentava com um “todos os homens técnicos de equipes estudaram, se especializaram e se prepararam como vocês dizem que as mulheres devem se preparar?”.

Neste aspecto, Emily Lima, hoje anunciada oficialmente como a nova e primeira técnica da seleção feminina principal, está pra lá de qualificada! No momento faz curso para tirar a Licença B da CBF. Estudou fora, é a técnica vice-campeã da Copa do Brasil de Futebol Feminino 2016 entre tantos outros predicados.

Não é apenas uma vitória das mulheres do futebol, é A vitória! É a coroação de tudo pelo que estamos lutando há anos! Não são apenas décadas de atraso, temos um século de retaliação, pelo menos um século em que nos foi concedido o papel de coadjuvante no futebol, como se este fosse propriedade absoluta dos corpos masculinos.

Nos campos onde as mulheres fazem a bola rolar, é preciso que as mulheres sejam as reais protagonistas.

E pra quem passou ~Graças a Jah!!~, sempre olhe pelo lado brilhante da vida: vocês tiveram suas chances. Agora saiam que nós vamos ocupar.