Anos Rebeldes, angústia, desespero e luta por dias melhores

Anos Rebeldes é uma série brasileira com 20 episódios, sobre a vida de jovens estudantes de classe média alta, no Rio de Janeiro, entre os anos de 1964 e 1979 que começam a participar de movimentos contra a ditatura militar e acabam formando um grupo de guerrilha urbana. Transmitida em 1992, dizem que ela até chegou a inspirar jovens a irem para as ruas pedir o impeachment do presidente Fernando Collor de Melo.

Por Carolina Maria Ruy*

Anos Rebeldes - Divulgação

O fio condutor da história é o amor aparentemente impossível entre Maria Lúcia (Malu Mader), uma moça que vive segundo altos padrões sociais, e João Alfredo (Cássio Gabus Mendes), um jovem idealista que atua no movimento estudantil, ambos alunos do tradicional Colégio Pedro II.

Embora filha de um jornalista do renomado Correio Carioca e conhecido membro do Partido Comunista, ela anseia por uma vida tranquila e segura. Sua aversão à política, conforme a série mostra, está calcada na convivência com o pai, um homem abnegado e sonhador como Alfredo. O rapaz, por sua vez, pertence a uma família tipicamente udenista da Zona Sul do Rio de Janeiro. 

Existe, nestas relações, uma evidente troca de papéis, na qual, cada uma a seu modo, rejeita as escolhas dos pais.

No início da série, durante os primeiros anos da ditadura, a militância estudantil e as diversas ações de rebeldia, contra a escola, contra a polícia ou contra a família, fluem de maneira crescente e envolvente. Em dado momento a coisa fica feia e todo aquela impetuosidade juvenil é posta em cheque. Eles precisam decidir se abraçarão a luta ou voltaram para casa. E, é nesta hora que se ergue uma barreira entre João e Maria.

Ele entra na luta armada, participa do sequestro do embaixador suíço Ralf Haguenauer e segue para o exílio. Como tantos e tantos brasileiros exilados, João só volta ao Brasil em 1979, com a Lei de Anistia.

Com a ditadura já apresentando sinais de desgaste e a chegada de tempos menos turbulentos, o amor que ficou em compasso de espera por quinze anos, dando lugar à paixão por uma “causa maior”, quem sabe, poderia se realizar.

Mas, mesmo com um sentimento ainda forte entre os dois, João, já adulto, volta ao Brasil envolvido com causas sociais, como a luta dos sem-terra no sul do país. Assim como seu pai, que escolheu o partido em detrimento da família, Maria Lúcia percebe que toda causa, para João, será maior que seu amor por ela.

No fim a série mostra que o frisson da contracultura e da militância de esquerda contra a ditadura militar se mantém vivos, mesmo após a Anistia.

Mais do que isso, a série mostra que as atitudes dos pais são repetidas pelos filhos, mesmo que através de sua negação. Por isso a música do Belchior “Como Nossos Pais”, na voz de Elis Regina, encerra a história em um ápice de angústia e desespero frente à inerente impossibilidade de um relacionamento.

A série, inspirada nos livros: 1968 – O Ano que Não Terminou, de Zuenir Ventura, e Os Carbonários, de Alfredo Sirkis.

Ouça a canção: