Vaticano abre seus arquivos sobre a ditadura na Argentina

A ditadura na Argentina foi uma das mais sangrentas da América Latina, deixou um saldo de mais de 30 mil mortos e desaparecidos. Mais de 30 anos depois que os militares deixaram o poder (1983), o Vaticano anunciou que vai abrir seu arquivo com informações sobre o período para que vítimas e familiares possam consultar as informações.

Papa Francisco - Divulgação

De acordo com o anúncio feito nesta terça-feira (25), o objetivo de abrir os documentos – que já estão digitalizados – é prestar “um serviço à verdade, à justiça e à paz, continuando com o diálogo aberto para a cultura do encontro".

A decisão de abrir os arquivos foi tomada de forma conjunta entre o Vaticano e a Conferência Episcopal, que trabalhou ao longo dos últimos anos na catalogação e digitalização de todo o material.

Em comunicado conjunto, as duas entidades explicam como será feito o acesso dos interessados aos documentos. "Com base em um protocolo que será estabelecido em breve, poderão consultar os documentos as vítimas e os familiares diretos dos desaparecidos e detidos, além de religiosos e seus superiores".

De acordo com o arcebispo de Buenos Aires, cardeal Mario Aurelio Poli, são cerca de 3 mil cartas escritas entre os anos de 1976 e 1983, que foram conservadas pela conferência. "Trata-se, na maior parte, de cartas dos familiares, sendo algumas com respostas a solicitações, com as comunicações que se faziam ao governo manifestando preocupações e pedindo pelas pessoas", disse Poli em entrevista em Buenos Aires.

Segundo o religioso, a etapa anunciada representa a conclusão dos trabalhos desenvolvidos pelo Episcopado e "aprofundado em novembro de 2012, promovido então pelo cardeal Jorge Bergoglio". Depois que foi eleito papa, Francisco quis levar o trabalho adiante com a ajuda de outros organismos da Santa Sé. "A Igreja não teme os arquivos porque eles conservam uma verdade histórica. Um serviço à pátria", afirmou o cardeal.